Seminários Saberes e Fazeres mostram práticas adotadas pelas escolas baianas durante a pandemia

Palavras-chave:

A pandemia foi tempo de reinvenção para todo o mundo, e com a educação não poderia ser diferente. Os educadores estão compartilhando o que aprenderam neste período e as práticas inovadoras que adotaram nas escolas da rede estadual e das redes municipais durante os Seminários Territoriais Saberes e Fazeres, atividade anual do Plano de Formação Continuada Territorial da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, realizado pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT). Os encontros, que reúnem todos os territórios de identidade da Bahia, começaram no último dia 17 de novembro e seguem até o dia 3 de dezembro (confira a agenda abaixo), com transmissão pelo canal do Youtube do IAT.  

 

Na manhã de quinta-feira, o seminário reuniu os educadores do Litoral Norte e Agreste Baiano (NTE 18) e Portal do Sertão (NTE 19). Um dos destaques foram as práticas desenvolvidas pelo Colégio Estadual Professor Carlos Valadares, que fica na zona rural da cidade de Santa Bárbara. A gestora Ladjane Santos e a coordenadora pedagógica Rita Menezes contaram como aconteceu a retomada das atividades após o fechamento da escola, no começo de 2020. O primeiro passo foi reunir virtualmente os professores, funcionários, estudantes e seus familiares para planejar coletivamente os passos que iriam seguir dali em diante. 

 

Para chegar àqueles que não tinham internet, usaram de todos os meios: faixas nas ruas, anúncio no carro do pão, uma palavrinha nas igrejas das comunidades. Com a comunidade mobilizada, botaram em prática um novo projeto, o "Onde moro, onde quero viver". Por incrível que pareça, foi no distanciamento social provocado pela pandemia que os professores e a gestão escolar puderam conhecer melhor a realidade de cada estudante, as histórias e belezas do lugar onde vivem e os jeitos particulares de contar tudo isso. "Nós partimos para aquilo que a Formação Continuada trouxe muito bem: a flexibilização do currículo. É um currículo inclusivo no sentido de notar que nós temos uma comunidade diversa, diferentes mundos dentro de um mesmo espaço, e precisamos respeitar essas inteligências múltiplas. Esse fortalecimento, esse aval, quem nos trouxe foi o IAT". 

Os seminários mostram na prática como acontece a articulação entre as redes estadual e municipais, modelo inédito no país. Na mesma reunião em que Ladjane e Rita mostraram as experiências vivenciadas no colégio estadual onde atuam, a técnica Amanda Rios, que trabalha na secretaria municipal de educação de Santa Bárbara, contou o que mudou na gestão da rede após os encontros formativos. 

Amanda disse que após a formação, a secretaria passou a ver de outra forma os resultados obtidos nas avaliações externas. "A gente expandiu nosso olhar para os indicadores. Passamos a analisar os níveis de proficiência dos estudantes, o fluxo escolar… Descobrimos até que nossos estudantes são melhores em matemática do que em Português. A partir daí, a gente construiu o nosso cenário, para planejar ações mais efetivas, para traçar de forma mais personalizada como a gente deve caminhar para garantir o direito de aprendizagem de todos". 

A análise dos indicadores escolares também foi um diferencial da Formação Continuada para o município de Baixa Grande. Sumara Neves, que é coordenadora pedagógica em quatro escolas da localidade, contou que a análise dos índices, associada a outros conteúdos trabalhados nos encontros, foi crucial para o desenvolvimento de um planejamento mais apurado. Por lá, a definição de conteúdos prioritários foi associada a uma iniciativa chamada Jornada da Escuta, uma forma de entender melhor a situação de cada estudante e garantir o aprendizado. A educadora se apresentou no encontro que aconteceu na tarde de quinta-feira, momento escolhido para a partilha das experiências dos territórios da Bacia do Jacuípe (NTE 15) e Médio Rio de Contas (NTE22). 

Resgate da ancestralidade

Na mesma reunião, no início da apresentação do Colégio Estadual do Campo Professor Dídimo Mascarenhas Rios, ouviu-se a voz firme da coordenadora Ana Lise Costa de Oliveira Santos numa canção aprendida com as cirandeiras do distrito de Chapada, em Riachão do Jacuípe. O trabalho desenvolvido na escola traz um importante resgate da ancestralidade e da sabedoria popular como complemento do saber científico, colocando a escola como mediadora e facilitadora do trânsito desses saberes entre os meninos e meninas da comunidade. O objetivo é, através da leitura e produção textual, promover uma prática educativa antirracista, voltada para a valorização e o respeito à diversidade.

Segundo a coordenadora, a escola também acaba produzindo e reproduzindo preconceitos, por isso escolheu trabalhar a educação antirracista dentro de um viés leitor, resgatando temáticas relacionadas as griôs e aos antepassados, mescladas às narrativas leitoras dos estudantes. “Esse trabalho nasce da nossa necessidade de enfrentar a nossa própria incapacidade como escola de lidar de forma criativa, positiva com as questões do preconceito e do racismo”. Ela contou que a formação foi a grande inspiração para o projeto, nascido em 2019. 

Intitulado Batuques de Ancestralidade, o projeto prevê grandes rodas de partilha entre os estudantes e os mestres populares, como os griôs, os contadores de histórias, escultores, sambadores e rezadeiras, que estão sendo mapeados pelos estudantes. Dentre essas “escutas”, estão também os diálogos produzidos entre os estudantes, que se relacionam com todo esse saber intergeracional. Os diálogos viram escritas - ou escrevivências - como a Ana Lise prefere chamar, parafraseando uma das escritoras estudadas no projeto, Conceição Evaristo. Ao final de cada etapa, um “balaio literário” socializa os saberes dos estudantes através de produções como poemas e experiências vividas ou apreendidas. “O estudante aproveita, valoriza a comunidade e nós educadores ficamos nesse ‘entre’ a escola e a comunidade, realizando nosso papel e trazendo uma nova função social da escola que é justamente valorizar o saber popular, trazer essa comunicação entre o saber popular e o saber científico.” 

Avaliação contínua

Na manhã desta segunda-feira, 22/11, os seminários receberam os educadores do NTE 20 (Sudoeste Baiano) para partilhar as suas experiências. Já no começo do encontro, a estudante Havana de Castro, representando o território, falou da importância da educação. “O estudante do Ensino Médio de hoje vem se preparando para se inserir no mundo e promover mudanças. Eu não seria ⅕ do que sou hoje sem educação, sem o acompanhamento e a orientação dos professores". Sobre a gestão educacional do Estado, ela completa: “O sistema de liderança (referindo-se aos grupos estudantis) que temos hoje é inspirador. Temos voz”. 

No encontro, as desigualdades sociais evidenciadas e aprofundadas pela pandemia foram destacadas como um dos grandes desafios à educação, especialmente nas comunidades rurais. No entanto, as apresentações mostraram uma grande diversidade de ações educacionais empreendidas nas redes para alcançar os estudantes e promover o aprendizado, mesmo nas condições mais adversas. Baseada nos estudos da formação continuada e na troca de experiências, a diretora escolar Alexsandra Alves Oliveira Santana, do Centro Educacional Wilson David Domingues, em Jacaraci, comentou: “Não haveria momento mais oportuno para a gente intensificar nossa busca por conhecimento do que este momento de pandemia. Na formação, a gente teve como base o nosso ambiente de trabalho. Através destes encontros, compreendemos a matriz de nossa formação, vivenciando a teoria e a colocando em prática de forma compartilhada.”

Em consequência, a necessidade de uma avaliação contínua foi evidenciada pelo coordenador pedagógico Jorge Cleiton da Escola Municipal Conveniada Senador Antônio Carlos Magalhães, em Planalto. Segundo, Jorge, as obras estudadas durante a formação foram essenciais para o trabalho em torno do processo de avaliação e refletiram na preparação para a Prova SAEB. No município em que trabalha, ajudou a criar o Dia da Mobilização SAEB, reunindo a secretaria municipal, os professores de Língua Portuguesa e Matemática, as duplas gestoras e o responsável pela aplicação da prova no pólo, além dos estudantes. 

Outro destaque desta segunda-feira foram as discussões sobre o papel do coordenador pedagógico entre os educadores do sul baiano, dos NTEs 6  (Baixo Sul), 7 (Extremo Sul) e 27 (Costa do Descobrimento), ocorridas durante a tarde. Kátia Silva, que atua na coordenação pedagógica na escola Arnaldo Moura Guerrieri, em Eunápolis, falou sobre como essa função ainda é pouco definida e reconhecida. "Quando cheguei à escola, lembro que os professores ficaram cismados, achando que eu estava ali como leva e traz da direção. Com o tempo, fui mostrando aos colegas o que a nossa presença significa. O coordenador oportuniza a reflexão na prática, promove a atualização do conhecimento dos professores". 

Kátia lembrou da importância que os encontros formativos do IAT tiveram nesse processo, especialmente no contexto pandêmico. "Essas trocas foram muito importantes para sabermos lidar com o novo. Lembro que teve um encontro de Língua Portuguesa e logo que eu saí dali eu passei todo o material que a gente tinha estudado para a professora de Língua Portuguesa da escola". 

Os encontros também foram fundamentais para o coordenador André Santos, que atua no Colégio Estadual Professora Jane Assis Peixoto, em Nova Viçosa.  Com a formação, ele conheceu instrumentos que passaram a fazer parte da sua rotina, como a Agenda do Coordenador e o Plano de Ação da Unidade Escolar. "Não são feitos para engessar, como eu pensava no começo, mas para otimizar o planejamento. É como aquele ditado: para quem não sabe onde chegar, qualquer caminho serve. E para nós, que trabalhamos com educação, não nos serve qualquer caminho". 

As práticas desenvolvidas na escola durante a pandemia já viraram tema de dois artigos escritos por André em parceria com a professora de biologia Vanessa Thomazini. Eles foram publicados numa coletânea, o ebook "Profissão Docente e Ensino Remoto Presencial". "Nós quisemos mostrar o que está sendo feito no chão da nossa escola para que possa ajudar outros educadores". 

Confira a agenda dos Seminários Territoriais Saberes e Fazeres (youtube.com/InstitutoAnísioTeixeiraIAT): 

24/11 - 9 às 12h - Sisal (NTE 04) e Semi-Árido Nordeste II (NTE 17) 

24/11 - 14 às 17h - Irecê (NTE 01) e Piemonte da Diamantina (NTE 16)

26/11 - 9 às 12h - Médio Sudoeste da Bahia (NTE 08) e Sertão Produtivo (NTE13) 

26/11 - 14 às 17h - Chapada Diamantina (NTE 03) e Piemonte do Paraguaçu (NTE 14)

29/11 - 9 às 12h - Recôncavo (NTE 21) e Litoral Sul (NTE 05)

29/11 - 14 às 17h - Vale do Jiquiriça (NTE 09) e  Bacia do Paramirim (NTE 12)

01/12 - 9 às 12h - Sertão do São Francisco (NTE 10) e Itaparica (NTE 24)

01/12 - 14 às 17h - Metropolitana de Salvador (NTE 26)

03/12 - 14 às 17h - Formadores IAT


Sobre o Plano de Formação Continuada Territorial 

A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira realiza a Formação Continuada para Gestores Escolares, Coordenadores Pedagógicos das redes municipais e Estadual, além das Equipes Técnicas das Secretarias Municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo mais de 8 mil educadores e técnicos de 417 municípios dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.

 

Notícias Relacionadas