Professora escolhe a Sociologia para que estudantes sejam agentes de transformação de suas realidades

 

Ao escolher a Sociologia para lecionar, a professora Natália resolveu contribuir para que o processo de ensino e aprendizagem em sua sala de aula também fomentasse nos seus estudantes o potencial que cada um carrega para ser um agente de transformação de suas realidades. Para isso, resolveu lançar um olhar diferenciado, que conseguisse trafegar pelas incertezas, medos, receios e potenciais de cada um.

“Prestar atenção no outro parece uma bobagem, mas é um gesto precioso. Ser professora lapidou esta habilidade, porque não existe professor sem o aluno e a nossa função é compor com os estudantes. Estar atenta faz com que possamos entender até que ponto estamos conseguindo fazer isso. A vida é um grande diálogo, uma troca, devemos sempre evitar estar falando sozinhos", avalia.

Filha dos pernambucanos Ângelo Roberto e Márcia Tereza, Natália Figueiroa nasceu em Maceió e veio para Bahia quando era criança. “Adotei Salvador como lugar de pertencimento. Sou grata por habitar este espaço com tanta ancestralidade e força. A Bahia não dá espaço para a acomodação, ela nos desafia, nos move, nos põe a pensar e é justamente isso que eu gosto nela”. A energia movida pelo dendê e o exemplo dos pais motivaram Natália a seguir uma carreira acadêmica intensa. Com 32 anos, a jovem professora possui licenciatura e mestrado pela Universidade Federal da Bahia e faz doutorado na mesma instituição.

“Aprendi em minha jornada que o conhecimento, o trabalho e a profissão não eram apenas uma forma de conquistar o sustento e sim uma possibilidade de interferir no mundo. A docência é a forma com que tento fazer isso”, analisa a professora da rede estadual, que atua há nove anos no Centro Estadual de Educação Profissional - Isaías Alves.

Para Ângelo e Márcia, a educação dos três filhos era uma prioridade absoluta.  “Minha infância e adolescência foram marcadas pelo encontro feliz com a escola. Nunca vivi o processo de escolarização como um fardo, mas como um processo de encontro com a diferença. Meu pai faleceu em um acidente de carro quando eu tinha 18 anos, mas tenho em minhas melhores lembranças as cenas de nós dois estudando, quando eu tinha alguma dificuldade. Apesar de trabalhar muito, ele conseguia parar e me ensinar. Minha mãe é uma pessoa muito dedicada e mostra, até hoje, que produzir alegria é fundamental para trabalhar. Ela ressalta a importância de festejar, dançar, sorrir e de olhar para o mundo com um friso de humor. Carrego estas características em minhas aulas, o que ajuda a contornar as dificuldades”.

Danielle Santos tem 34 anos, foi aluna de Nathalia e relembra dos bons momentos de troca com a mestra. "Ela entende o ensino de forma diferente e especial, é uma professora humana, gentil, compreensiva e carinhosa, que possui uma sensibilidade para entender o aluno como pessoa e não apenas como estudante. Hoje, cursando licenciatura em Sociologia, encontro nela uma inspiração de como abordar a Sociologia em diversos formatos na sala de aula, aproximando os temas às nossas vidas“.

Gleidson Salete também teve a oportunidade de conviver com a professora e se recorda, emocionado, do incentivo recebido. “Ela descobriu que desenhava e me incentivou a continuar fazendo aquilo que gostava. Fiquei muito feliz quando ela emoldurou um desenho meu e colocou em sua estante, me senti acolhido e reconhecido. Nunca vou esquecer desse gesto”. Atualmente com 20 anos, o jovem pensa em fazer bacharelado interdisciplinar em Artes, na Universidade Federal da Bahia. Mesmo não sendo mais aluno da professora Nathalia e da instituição, ele permanece em um dos projetos desenvolvidos pela comunidade escolar chamado “O capítulo que falta”. O projeto é um clube de leitura. “Percebemos que a escola tinha necessidade de estimular o hábito de ler e estimular o conhecimento sobre Direitos Humanos e diversidades. Ao invés de utilizarmos o formato tradicional, criamos um ambiente formativo por meio da literatura. O objetivo era aproximar os jovens da leitura, proporcionando o acesso a vários gêneros e temáticas. Se por um lado os estudantes são desafiados a expandir seus horizontes, por outro os docentes envolvidos no projeto também são continuamente provocados, promovendo uma formação continuada e colaborativa”, avalia Natália.

Reportagem: Pedro Moraes

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