Educadores discutem como as tecnologias podem contribuir para o avanço das aprendizagens

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Ensino a distância, ensino remoto, ensino híbrido. Qual é a diferença entre essas modalidades? Como compreender os novos espaços de construção do conhecimento entre os estudantes? E como lidar com novas formas de interagir e com diferentes tempos de resposta? Todas essas reflexões estão movimentando os encontros entre diretores escolares e coordenadores pedagógicos promovidos pelo Plano de Formação Continuada Territorial. Desde 2019, a Secretaria de Educação do Estado da Bahia realiza formação continuada para os educadores baianos, por meio do Instituto Anísio Teixeira. Este ano, são mais de 8 mil profissionais envolvidos.

As mudanças promovidas pela pandemia trazem a necessidade de relativização dos conceitos de tempo e espaço que, no formato presencial, eram delimitados. Com os novos modelos - digitais ou analógicos - que cada rede de ensino está sendo compelida a adotar, é necessário repensar essa relação. Em encontro formativo ocorrido no último dia 26 de maio para coordenadores pedagógicos do Núcleo Territorial de Educação (NTE) 5, com sede em Itabuna, a formadora Andrea Meireles provocou os participantes a refletirem sobre suas práticas, considerando estas novas concepções.

Ela conta que as ações pedagógicas precisam garantir a interação do estudante com a escola e o conhecimento, legitimando a autonomia que o momento exige. “Um grupo de Whatsapp pode ser um espaço de aula, um espaço de construção de aprendizagem. O tempo dos meninos conversando entre eles pode ser de construções produtivas se fizermos as instigações necessárias”.

Andrea também é coordenadora pedagógica e conta que na escola em que atua, o Colégio Estadual General Osório, um professor de ciências desenvolveu atividades sobre o sistema respiratório utilizando o grupo de Whatsapp. A partir das intervenções do professor, até os alunos que não estavam frequentando as aulas síncronas participaram da atividade, interagindo e ajudando uns aos outros. 

“Uma prática de referência nesse contexto de pandemia é aquela em que a gente consegue manter os estudantes dialogando em torno do mesmo tema. Se os meninos estão lá no grupo do Whatsapp interagindo, conversando sobre o tema que o professor propôs, é uma iniciativa de êxito. Assim como se o professor mandou uma atividade para a escola e os estudantes que não têm acesso à internet conseguiram construir essa atividade no diálogo com a família é também uma experiência de êxito”.

Presente à reunião conduzida por Andrea, a coordenadora pedagógica Raika Jasiara contou que na Escola Municipal de Camacan, onde trabalha, além das aulas remotas e atividades impressas com todo o corpo discente, uma iniciativa para aproximar os estudantes portadores de necessidades especiais também está se desenvolvendo. A pedagoga formada em libras Silvana Francisco foi designada especialmente para acompanhá-los. Ela recebe as atividades de todas as áreas do conhecimento e atende aos estudantes e pais respeitando o momento que é possível para cada um deles.

A experiência de Camacan trouxe a reflexão: “Nunca a gente foi desafiado a conhecer tanto a situação dos nossos estudantes. Hoje, para planejar as aulas, todo mundo tem que conhecer a situação dos estudantes. É uma coisa que foi muito debatida na escola que é conhecer a comunidade escolar, mas que agora se tornou mais efetiva”, pondera Andrea.

Mudanças e rupturas

Num outro encontro, realizado no último dia 27 de maio para as duplas gestoras que atuam no NTE 18, com sede em Alagoinhas, a formadora Tânia Figueiredo lembrou que "querer transpor o presencial para o remoto é uma prática fadada ao fracasso". E completou: "O que nós precisamos é pensar novas possibilidades, mover nossas estruturas e reorganizar o trabalho pedagógico". 

Para mostrar como isso vem acontecendo na prática, Tania convidou a professora Juglielma Guimarães para o encontro. Ela dá aulas de matemática no Colégio da Polícia  Militar Professor Carlos Rosa, em Alagoinhas. Para se aproximar dos estudantes neste período de aulas remotas, Juglielma propôs a criação de um site, o "Matematicamente Falando" e de um podcast, o "Pensando Fora da Caixa". 

Os conteúdos das plataformas são alimentados pelos próprios estudantes, com a supervisão de Juglielma. Por lá, eles já aprenderam sobre geometria, estatística, funções e sistema monetário. "Eles abraçam as atividades com mais interesse, mais vontade, mais entusiasmo. É uma maneira de promover mais autonomia. Requer do aluno um processo constante de pesquisar, experimentar, refletir e compartilhar. Tudo isso as tecnologias nos oferecem". Neste processo, ela também mudou a forma de avaliar os estudantes, com menos teoria e mais prática. "Os períodos de exceção potencializam as mudanças e aceleram as rupturas".

Presente ao encontro, a coordenadora pedagógica Maria Cristina Santos, que trabalha em uma escola da rede estadual em Esplanada, concordou. "Com certeza, esse será o resultado positivo da pandemia: o fortalecimento do uso das tecnologias na educação. Mesmo após o retorno das atividades presenciais, a escola jamais vai ser o que era antes. Nós estamos nos transformando. A tecnologia não pode mais ser excluída das aulas". 

Lourice Barros, que também é coordenadora pedagógica em Esplanada, numa escola municipal no povoado de Limões, contou que se sentiu instigada pelas experiências partilhadas no encontro formativo. "Esse novo pra mim está sendo um pouco assustador, mas a cada dia me sustento pelas experiências dos colegas. Amei esse momento de partilha e conhecimento. Plantam uma sementinha de incentivo", disse, com um riso no rosto. 

Outro educador presente ao encontro, o coordenador pedagógico Manoel Matos, que trabalha na rede estadual em Itapicuru, contou que estava se sentindo em uma "universidade, tal a qualidade do trabalho". "As formações nos lembram a parte teórica do que fazemos na prática e nos fazem refletir sobre essa prática. Criam um ciclo". 

Sobre o Plano de Formação Continuada Territorial 

A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira, realiza a o Plano de Formação Continuada Territorial para gestores escolares e coordenadores pedagógicos das redes municipais e Estadual, além das equipes técnicas das secretarias municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo educadores e técnicos dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.

 

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