Colégio estadual em Santa Bárbara fortalece projeto interdisciplinar a partir de encontros formativos

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No ano de 2019, um projeto, O Lugar Onde Moro, O Lugar Onde Quero Viver, nasceu no seio das atividades de uma professora da educação especial. Mal sabia Maria José Lima Macedo que, um ano depois, esse projeto seria ampliado para atender às demandas sociais, culturais e econômicas de todo um município, a partir dos problemas, evidenciados ou originados no período de pandemia. A cidade é Santa Bárbara, integrante do NTE 19, Território de Identidade Portal do Sertão e foi o Colégio Estadual Professor Carlos Valadares que deu corpo e marcou com traço firme os objetivos a serem alcançados com aquele projeto, já revisitado e potencializado. 
 
Com a participação da diretora escolar Ladjane Santos e da coordenadora pedagógica Rita Menezes nos encontros do Plano de Formação Continuada Territorial, da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), realizado através do Instituto Anísio Teixeira (IAT), a perspectiva de que a educação não anda só, nas palavras da diretora, ganhou um novo sentido: o de tirar as iniciativas da escola das cápsulas e trazer para as 27 comunidades e 3 bairros urbanos da sede, mapeadas pelo projeto com localização geográfica, fraquezas e potencialidades. Neste mapeamento, puderam encontrar os estudantes - onde estavam e quais eram os problemas que enfrentavam no dia-a-dia.
 
Assim, o que era um projeto exclusivo para alunos com necessidades especiais inspirou a gestão da escola, ganhando amplitude e ramificações que pretendem contribuir de maneira permanente para a resolução algumas questões, como o êxodo dos jovens das comunidades, a falta de padronização nas produções alimentícias do município, a falta de  conhecimento e identificação dos estudantes com a cultura local, problemas ambientais, além da crise econômica que se esperava para o período pós pandêmico.
 
Nos encontros formativos, a questão da territorialidade refletia os interesses da dupla gestora que desenhava o projeto para extrapolar os muros da escola e ultrapassar os limites da relação estudante x professor.

"Na experiência de formação territorial, a construção coletiva, a socialização de saberes e experiências e a perspectiva de inclusão e interdisciplinaridade promoveram um outro grande passo na amplificação do projeto, que foi convocar todos os professores para pensar juntos os contornos do trabalho, cujo resgate da identidade barbarense estava presente em todos os aspectos: acredito muito nas decisões coletivas, as decisões precisam ser compartilhadas para que as pessoas possam se sentir parte", defende a diretora da escola, fundada há 53 anos.

 
Quando o estudante se conhece melhor, ele pode ajudar a transformar o espaço em que vive, conta a coordenadora Rita Menezes, ao afirmar que o fortalecimento das comunidades locais é uma vertente importante do projeto. Ela mesma testemunha que, quando criança, sentiu na pele o preconceito por sua origem rural, o que a fez perder um ano escolar e o desejo de morar na sede. Ela e a diretora sentem que este é um fator que faz com que os jovens desejem sair das comunidades rurais, mesmo que as principais atividades econômicas do município sejam a agricultura e pecuária. 
 
Para garantir a participação dos estudantes, a dupla gestora e seu corpo docente apostaram na divisão do projeto em grupos de interesse, em que os educandos deverão escolher os subprojetos de acordo com sua afinidade, respeitando a participação em todas as áreas do conhecimento. Assim, terão que estar em pelo menos um projeto de linguagem, ciências humanas e ciências exatas. Todos estes projetos estarão interligados por objetivos específicos que respondem à necessidade de integração com o mundo do trabalho, do entendimento do poder de intervenção nas suas comunidades e mais além, do cumprimento do objetivo de promover integração social, a partir da valorização local.
 
Os estudantes dos cursos profissionalizantes de agroindústria e técnico em alimentos da escola terão um eixo especial, o da produção alimentícia, que pretende contribuir na divulgação e instauração das boas práticas na produção do município, que é conhecido como terra do requeijão e possui onze pequenas fábricas artesanais do produto, reconhecido como o melhor da Bahia.
 
Dessa vertente, um importante resultado será a Indicação Geográfica do requeijão de Santa Bárbara. A proposta está em estudo para a formalização ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), o que irá beneficiar não só o município, mas possivelmente, outras cidades da bacia do Jacuípe.
 
Para que isso seja possível, os estudantes dos cursos profissionalizantes participarão, junto a equipe da Universidade Estadual de Feira de Santana, de um intenso processo para determinar e implantar as boas práticas que irão garantir que as pequenas fábricas da região recebam avaliação positiva pelos técnicos do órgão. Eles entendem que essa aproximação com a universidade é de suma importância para o fomento à pesquisa, especialmente por trazer essa realidade para o universo do estudante do ensino médio. Dessa forma, pretendem impulsionar o desenvolvimento local e territorial, diminuindo o contingente de jovens que saem da cidade. 
 
De acordo com Ladjane, a formação abriu horizontes para a possibilidade de interferência local com vistas à repercussão no mundo. Dentre as discussões e as contribuições da formadora Ivana Sacramento, que atuou no NTE em 2019, está a confiança do resultado da ação da educação na vida das pessoas. A partir dessa certeza, a dupla gestora deixou a inquietação ganhar voz e o que ela dizia era que a escola precisava ajudar a comunidade a lidar com a crise. É importante pensar no ser humano e a formação vem para esclarecer que a responsabilidade é de todos, defende Ladjane. Ivana agora atende outro NTE, mas continua fazendo parte das reuniões do projeto que viu nascer, em visita à escola no ano passado.
 
A dupla gestora aposta na capacidade de aproximar e firmar vínculo com os alunos afastados pelo fechamento da escola por conta da pandemia, através de uma mudança de paradigmas na frequência escolar. Para a volta às aulas, pretendem reunir os estudantes não por série, mas por comunidade, para onde os professores monitores do projeto se deslocarão, diminuindo riscos provenientes da pandemia por COVID. 
 
A organização e capacidade de agregar muitas vozes – o trabalho conta ainda com apoio da UFBA, UNEB, Secretaria do Meio Ambiente, entre outros órgãos – aponta para o papel da escola na conexão com a comunidade, buscando uma ação baseada na reflexão do que está envolvido no coletivo. Mais ainda, direciona holofotes para o coletivo da escola, com todos os seus atores – gestão, corpo docente, funcionários, estudantes e comunidade – evidenciando a educação como um dos mais importantes pilares de transformação social.

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