Seminários mostram as práticas inovadoras adotadas pelas escolas baianas durante a pandemia

O compartilhamento de experiências é um dos principais pilares do Plano de Formação Continuada Territorial, promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT). É possível acompanhar de perto como acontece o avizinhamento dessas práticas durante os Seminários Saberes e Fazeres, realizados anualmente, e que chegaram hoje ao penúltimo dia da edição de 2021. 

 

Os seminários reúnem uma parcela dos 8 mil educadores baianos das redes estadual e municipais que participam da formação continuada, entre coordenadores pedagógicos, gestores escolares e técnicos tanto dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE) quanto das secretarias municipais de educação de toda a Bahia.  As contribuições da Formação Continuada para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem neste ano vêm sendo ratificadas em apresentações que versam sobre os principais temas tratados na trilha formativa e vivenciados na rotina escolar de profissionais dos 417 municípios do estado.

 

Nesta segunda (29/11) e quarta (1/12), os educadores dos NTEs 5 (Litoral Sul), 9 (Vale do Jiquiriça), 10 (Sertão do São Francisco), 12 (Bacia do Paramirim), 21 (Recôncavo), 24 (Itaparica) e 26 (Metropolitana de Salvador) apresentaram as práticas de referência desenvolvidas pelas redes de ensino durante o ano de 2021. Os eventos foram transmitidos pelo canal do IAT no Youtube (youtube.com/InstitutoAnísioTeixeiraIAT), onde permanecem disponíveis na íntegra. 

Na manhã desta segunda, os educadores mostraram como enfrentaram o aumento da evasão escolar, um dos problemas agravados pela pandemia. Jalma Souza, gestora na Escola Municipal Otávio Portela Póvoa, na zona rural de Itajuípe, contou com o apoio metodológico da Formação Continuada para criar um plano de busca ativa dos estudantes que não estavam participando das atividades remotas nem respondendo aos cadernos impressos. "A gente precisava assegurar o direito de todos à educação. E aí lá fomos nós fazer a busca ativa. Vestimos a camisa e fomos visitar os alunos". 

As visitas domiciliares foram apenas uma das estratégias utilizadas, mas também teve barraquinha de divulgação na praça, carro de som, faixas, anúncio na rádio da cidade. "A gente tinha também o desafio de manter os alunos no próprio distrito, valorizando a escola da sua localidade. Nós conseguimos isso. As turmas hoje estão muito mais ativas e presentes". 

No Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, em Itabuna, as estratégias de busca ativa - "e afetiva", como diz a coordenadora pedagógica Patrícia Schaun -  perduram até no retorno às aulas presenciais. No período de atividades exclusivamente remotas, a escola estadual também contou com carros de som, que percorreram os bairros próximos, para convocar os estudantes a participar das atividades, especialmente aqueles que não tinham acesso à internet. 

 

Aqueles que podiam participar das aulas online receberam todas as orientações durante uma jornada estudantil virtual, que aconteceu no canal da escola no Youtube. Os professores fizeram formações com os alunos para explicar como utilizar as ferramentas que seriam adotadas. Os líderes de classe foram parceiros de todo esse processo. "Se algum estudante deixava de frequentar, eles faziam esse trabalho de busca ativa com a gente. Participaram da gestão de uma forma muito ativa. Os resultados foram melhores do que a gente esperava", contou Patrícia. 

 

Em Caturama, a rede municipal lançou mão de um documento especial para animar as famílias: uma carta assinada pelo secretário de educação foi enviada aos alunos convocando-os para participarem das aulas. A educadora técnica Juçara Leão Martins contou que, a princípio, os alunos ficaram encantados com a novidade de ter a escola dentro de casa, mas com o passar do tempo, houve uma desmobilização e alguns pararam de participar. Por isso, tiveram a ideia de enviar a carta, reiterando a importância de continuarem os estudos, seja através das aulas online - síncronas ou assíncronas - ou dos cadernos de atividades enviados para aqueles sem acesso à internet. 

Segundo Juçara, que também leciona História, a busca ativa deve ser permanente e baseada em uma avaliação precisa da situação de cada estudante. A rede desenvolveu um documento com as informações de todo o corpo discente para entender quais as dificuldades de cada um e, a partir daí, promover as adaptações necessárias à participação de todos. Este documento também orienta o controle de “frequência” e sempre que percebem indícios de evasão, lançam mão de algum comunicado para as famílias. A educadora já se prepara para o retorno 100% presencial contando com o apoio da formação continuada: “Solicitamos que em 2022 a formação esteja novamente ao lado da gente, porque o aluno vai retornar ao presencial. Vai ser um novo contexto. O aluno agora conhece tantos professores na internet, que a gente vai ter que ser muito dinâmico para dar conta desse recado”.

O envolvimento familiar e da comunidade também mostrou resultado na educação de outro município, Rio do Pires. Por lá, desde as aulas remotas até a construção do currículo, houve a participação de todos. Herlane das Dores Silva é coordenadora pedagógica na Escola Municipal Deputado Henrique Brito e aponta um diferencial da rede: desde o início das aulas remotas, os professores e professoras ministram as aulas diretamente das unidades escolares. “Isso contribuiu bastante para que uma nova rotina escolar fosse estabelecida. As famílias se engajaram ainda mais, os alunos tinham horário a cumprir e, assim, as atividades educacionais de 2021 se estruturaram de forma mais sistematizadas. Houve um engajamento maior também dos professores em relação às aulas a distância.”

Instrumentos de planejamento

Outro destaque dos seminários foram as apresentações sobre os instrumentos de planejamento apresentados pela Formação Continuada, como o Plano de Suporte Estratégico, que sistematiza as estratégias e ações das equipes técnicas nas secretarias de educação. Josimar Assis, que atua na rede municipal de Casa Nova, contou que o plano fez com que o trabalho pudesse ser melhor organizado. "Gostaria de agradecer imensamente ao IAT, por ter pensado nessa instrumentalização para as secretarias. Esse plano é um dispositivo que nos apoia, nos traz a possibilidade de acompanhar, desenvolver, monitorar, organizar estrategicamente as ações. Antes, as secretarias tinham as ideias, as propostas, mas não tinham o instrumento. A formação nos apresenta caminhos, estratégias para que cada município faça suas adaptações. Não é algo dado. Esse é um outro diferencial dessa formação". 

A partir da construção coletiva do plano de suporte - que define as ações e estratégias que serão realizadas por determinados atores em determinado período de tempo -  foi possível articular novos projetos, como as intervenções pedagógicas nas escolas que estavam com baixo rendimento. "É algo feito com muito diálogo, para que todos entrem nesse processo de parceria, de dar às mãos, e se fortaleçam juntos", contou Josimar. Ele também mostrou como as ações descritas no plano para 2020 e 2021 se articulam com as metas do Plano Municipal de Educação (PME). "Hoje nós temos um PME vivo porque ele foi vinculado a este plano de suporte estratégico, que orienta as ações no chão da escola". 

Givanice Santana, que trabalha na secretaria de educação de Sobradinho, falou sobre como o plano de suporte estratégico ajudou no planejamento para o retorno das atividades presenciais. "Com o plano, construímos com mais clareza os protocolos de segurança, mas também definimos o que era essencial pedagogicamente naquele momento. Além disso, o plano é um registro, uma memória de tudo que fizemos nesse período excepcional na história da educação no Brasil e no mundo". 

Leitura e compreensão de Mundo

Projetos de leitura, produção textual e matemática foram destaque nas redes de ensino, especialmente neste ano de realização da prova SAEB. Interdisciplinares, mas com base nas competências a serem adquiridas nas áreas de linguagem e matemática, projetos e sequências didáticas foram realizados em diversas escolas, em todos os segmentos. Em Camaçari, encontros semanais entre a secretária de educação e os coordenadores pedagógicos deram origem ao projeto Escolas Formadoras. Além de promover a troca de experiências entre os coordenadores, o projeto avaliou e monitorou as aprendizagens, constituindo-se num espaço formativo. Um dos produtos foi um e-book contendo sequências didáticas dos professores de Língua Portuguesa e Matemática, pensados para contribuir com o trabalho voltado para a prova SAEB.

Para os alunos da Educação de Jovens e Adultos do Colégio Estadual Euricles de Matos, em Salvador, o compromisso da inclusão do estudante no mundo letrado foi firmado a partir de projetos que consideram a transdisciplinaridade como forma de trabalho, contando com as artes e afetividades para a sua realização. A coordenadora do colégio, Cristina Maria Gomes, contou que os conteúdos dos encontros formativos foram essenciais para o desenvolvimento das intervenções pedagógicas e elegeu a importância da leitura em todas as áreas do conhecimento, a flexibilização curricular e a construção do plano de ação como as maiores contribuições. “Tivemos música, sessões de cinema, oficinas e ao final os professores de linguagem e humanas produziram um documentário que apresentará as trajetórias de vida dos estudantes e o olhar deles sobre a escola.” O documentário será exibido no colégio com sessão aberta ao público.

Também através da pedagogia de projetos, o Colégio Estadual Carlos Marighella, ao analisar os diagnósticos dos estudantes do 6º ao 9º ano, procurou estabelecer ações para resolver os problemas de aprendizagem que os descritores demonstravam, considerando todas as séries do Ensino Fundamental II. A diretora da escola, que fica em Salvador, Aldair Dantas, contou que criaram uma matéria eletiva para cada ano, escolhendo os conteúdos por “etapas”. Assim, o sexto ano foi contemplado com a eletiva em leitura e interpretação, essencial para superar fragilidades na habilidade de leitura e decodificação de mensagens. O sétimo ano reforçou os estudos em matemática, conforme conta o vice-diretor Jorge Costa: “A geometria plana e espacial também interage com outras disciplinas na decodificação do mundo.” 

No oitavo ano, a ideia foi explorar um pouco mais a linguagem, agora voltada para a produção textual, e o último ano teve um trabalho mais aprofundado com resolução de problemas matemáticos, raciocínio lógico, estatística e educação financeira. Segundo a Aldair, os resultados foram surpreendentes. “Os alunos trazem produtos maiores do que a expectativa que depositamos neles. Percebemos que, para além da prova, os seus saberes foram potencializados.”

Os seminários terminam amanhã, com um encontro que reunirá os formadores do IAT. A transmissão online começa às 14h, no canal youtube.com/InstitutoAnísioTeixeiraIAT. 

Sobre o Plano de Formação Continuada Territorial 

A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira realiza a Formação Continuada para Gestores Escolares, Coordenadores Pedagógicos das redes municipais e Estadual, além das Equipes Técnicas das Secretarias Municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo mais de 8 mil educadores e técnicos de 417 municípios dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.

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