Professora da EJA valoriza as histórias de vida de cada estudante no seu exercício do magistério

Em casa, com o senhor Francisco Pires Barbosa, seu pai, que tinha no salário de servente de cafezinho o sustento da família, Eriene Nunes Barbosa aprendeu a ler e a escrever. Com a mãe, dona Maria Augusta Nunes Barbosa, cabeleireira, recebeu o incentivo para ingressar no curso de Letras, “para ser professora”. Apesar da pouca escolaridade, seus pais tinham na educação o pilar da construção de um futuro com mais possibilidades sociais e financeiras. Enquanto se preparava, Eriene teve contato com a obra do educador Paulo Freire, com a qual aprendeu a importância de conhecer as histórias de vida e os saberes dos estudantes no exercício do magistério. Mais tarde, ao assumir a Educação de Jovens e Adultos (EJA), a educadora consolidou a importância do magistério na sua vida.
 
Nesse meio familiar de valorização à educação, cuja regra básica era frequentar a escola, juntamente com os seis irmãos, a professora conta que sua trajetória é sempre reportada aos seus alunos de Língua Inglesa da EJA, no Colégio Estadual da Bahia (Central) com o exemplo de perseverança para conquistar sonhos. E dentro da vocação educacional, Eriene mostra que educar vai além do ensinar e do ouvir. O maior desafio, considera, é acolher e elevar a autoestima dos estudantes para que continuem seu percurso escolar.

“Tem alunos da EJA que se consideram incapazes de alcançar um nível educacional para além do que estão, por conta das dificuldades de quem trabalha o dia todo para o sustento da família e, à noite, reserva tempo para a dedicação à escola. Mas busco desconstruir cotidianamente essa ideia através da minha história acadêmica e de vida, tendo que estudar à noite, no curso técnico em Contabilidade que fiz o Ensino Médio no turno noturno, porque também precisava trabalhar”, conta Eriene.

Como fez curso técnico em Contabilidade no Ensino Médio, à noite, e trabalhava durante o dia, Eriene achava que suas chances de ingressar em uma universidade eram mínimas. “Mas acatei a sugestão da minha mãe e me inscrevi para fazer o vestibular de Letras, contando com as aulas do Telecurso Segundo Grau, nas primeiras horas da manhã”, lembra a educadora, que morava com os pais, no município de Cruz das Almas, e foi aprovada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, única instituição de Ensino Superior, na época, que auxiliava estudantes carentes do interior, concedendo moradia e alimentação.

“A minha estadia na Residência Universitária e no curso de Letras foram preponderantes para eu continuar desejando ser uma professora, pois os colegas de quarto e os professores do curso foram grandes incentivadores”, revela. Ela conta, também, que o fato de ter iniciado a carreira de professora, em 1997, ensinando Língua Portuguesa para estrangeiros, acabou despertando o gosto pelo ensino da Língua Inglesa para alunos da escola pública. “Foi quando me candidatei ao concurso do Estado, em 2000, para ensinar esta disciplina”.

Tempos depois, ao surgir a oportunidade de ensinar em turmas da Educação para Jovens de Adultos, em 2014, Eriene conta que, embora não tivesse experiência com o público-alvo da modalidade, vislumbrou ali um canal importante para o estímulo ao direito de aprender, com permanência e continuidade dos estudos ao longo da vida. “E foi com os estudantes da EJA que tive a certeza de que educação tem a ver com saber ouvir histórias para fazer o planejamento dos conteúdos das aulas de forma que valorize as experiências de vida daqueles estudantes”.

Reportagem: Claudia Lessa/ASCOM SEC

Notícias Relacionadas