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Ouvir para agir: a escuta no papel do coordenador pedagógico
Publicado em sex, 28/08/2020 - 10:38 por Ascom/Educação
Palavras-chave:
Qual é o repertório essencial do coordenador pedagógico? O que este profissional precisa para garantir que os objetivos de sua função sejam atingidos? O conteúdo acadêmico é o componente mais importante na composição do fazer do coordenador? E se um outro fator, menos formal pudesse fazer igual ou maior diferença no aprendizado dos estudantes? Poderíamos colocar as leituras das teorias educacionais lado a lado com a observação atenta de pequenos, mas significativos escritos deixados por eles, que são o público do fazer pedagógico?
Estas questões não estanques suscitaram a curiosidade de muitos coordenadores pedagógicos participantes do encontro formativo do Território de Identidade do Portal do Sertão (NTE 19), no dia 13/08, que teve a presença da formadora do Plano de Formação Continuada Territorial e coordenadora pedagógica Janaina Barros, para contar como a escuta passou a fazer parte da sua vida quando percebeu que os “recados” deixados por silêncios e falas dos estudantes representavam o conteúdo necessário para planejar as ações na escola. Esta escuta – que usa todos os sentidos – tem feito a diferença por onde ela passa.
Janaina Barros - Formadora e Coord. Pedagógica
Atualmente no Colégio Estadual de Seabra, Janaina contou como as escritas que são deixadas nas carteiras, nas paredes e até nos banheiros da escola são fundamentais para que ela consiga compreender a origem das defasagens de ensino-aprendizagem. Como ela mesma diz, “onde estão as dores e infelicidades” dos meninos e meninas que dificultam este processo, produzindo reprovações e desistências. Esta leitura, associada à observação e ajuda de outros profissionais da escola, como porteiros, merendeiras, auxiliares de limpeza, secretaria, além de reunião de pais e conselhos de classe, agrega ao mapeamento feito para entender o corpo discente.
A pesquisa envolve, além da observação e registro desses escritos, cadernetas de classe, dados dos estudantes que chegam de outras instituições, histórico escolar, entre outros. Seu cruzamento em planilhas, mapas, atas e cadernos produzem informações concretas sobre cada um dos estudantes. “Eu entendo a escuta na escola como um projeto, portanto a escuta é planejada, antecipada, faz parte de um processo”.
Esses dados são associados a frequentes conversas com os estudantes. “Eu cruzo esses dados com a conversa que eu faço com eles; nela eu consigo ouvir a percepção que eles têm sobre si, sobre o outro, sobre o papel da escola e sobre o futuro. Essa história que eu vou contando nessa relação sobre escuta e dados vai me dando condições de discutir melhor sobre um projeto de um determinado professor, como organizar as comemorações da escola, como instituir projetos, como ajudar o professor a pensar melhor sua estratégia de avaliação, a construir projetos de recuperação paralela, como melhorar comunicação dos murais, além de sentir o desafio que os professores vivem, porque quando a gente entende a variedade de desafios que os alunos enfrentam, a gente também entende o tamanho do desafio do professor na sala de aula(...)”.
“Quanto mais perto um educador consegue chegar da vida das pessoas, mais ele tem o que aprender para melhorar o seu fazer em função delas” - Janaina Barros - educadora
O mapeamento existe justamente para encontrar as raízes do desinteresse, da reprovação, da evasão, problemas que, de acordo com a formadora, precisam ser firmemente combatidos. “Nada na escola vai valer a pena se não evitarmos isso”. Dentre suas próprias questões, a educadora, que já saiu por dois anos do ensino, entende a sua função social e, como tal, reflete sobre seu sonho de futuro e, mais ainda, trabalha incansavelmente por ele. Este desejo converge com os objetivos do programa de formação continuada promovido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia, que é garantir o desenvolvimento contínuo e coletivo dos coordenadores e gestores escolares para que estes desafios sejam superados com mais fluidez. E a escuta ativa, como ressalta Cybele Amado, diretora geral do IAT, é parte importante desse processo. Nas suas palavras: “Escutar e cuidar são dois verbos muito próximos”.
Dentro da pauta formativa que Janaína traz para os cursistas que fazem parte da sua turma no NTE 03 – Chapada Diamantina, Janaina reitera que esta escuta é fator fundamental. Munidos das informações da forma mais completa, os coordenadores conseguirão realizar ações cujo resultado seja o mais efetivo possível. De acordo com a formadora, para a construção dos saberes, é necessário que se instaure uma reflexão de que o trabalho do coordenador é vinculado à processos, nos quais as suas estratégias de pesquisa são validadas. “É preciso manter a formação do coordenador pedagógico para que ele possa refletir sobre o seu fazer diante das dificuldades de aprendizagem. E ir nos ajudando a entender que a melhor decisão é aquela que gera espaços e condições para o sujeito do nosso fazer aprender”.
"Escutar e cuidar são dois verbos muito próximos" - Cybele Amado - diretora geral do IAT
Na contramão de alguns resultados brasileiros, o CES apresentou, em 2019, índice de evasão de 4,39% no matutino e 7,42% no vespertino (turnos de trabalho de Janaina). Em 2018, a evasão na mesma unidade foi de 15,86% - média entre os números das 3 séries – o que, confrontado com o número de 2019, aponta para o efeito do trabalho. No entanto, isso vai além; perceber alunos que viram amigos, influenciar suas escolhas, fazê-los acreditar em si mesmos podem não estar nos relatórios das avaliações externas, mas são encontrados em um simples “até que enfim alguém leu”, exemplo de um registro deixado por uma aluna em uma rede social, a respeito do que há tempos era um desabafo anônimo.
No dia 11 de agosto, foi lançado o documentário intitulado “Prova Escrita”, vencedor de uma seleção promovida pelo canal Futura e baseado no projeto “Quase Bilhetes”, de Janaína, em que ela conta exatamente a construção desse projeto de escuta e registro para compreender a situação pessoal de cada estudante e, a partir daí, realizar ações para tornar a escola mais acolhedora e o processo de aprendizagem mais efetivo. No filme, se traduz visualmente e em histórias reais, todo o conteúdo que a coordenadora traz.
A educadora chegou a prestar vestibular – e passar – para medicina em São Paulo, no entanto, por obra do destino – e um empurrãozinho do seu avô, que enterrou seu umbigo no terreiro da escola na comunidade onde nasceu – Janaína encontrou seu caminho na pedagogia. Mas ainda usa os diagnósticos para resolver problemas. A formadora afirma que ainda não tem todas as respostas para os desafios que a situação escolar apresenta, mas que deseja fazer entender que “quanto mais perto um educador consegue chegar da vida das pessoas, mais ele tem o que aprender para melhorar o seu fazer em função delas”.
Assista o documentário completo em: http://bit.ly/provaescrita
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