Formação Continuada: Poesia, leituras e aprendizagens

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Foi um desafio: “escreva um poema!”, que a formadora Givaédina Moreira de Souza lançou para a coordenadora pedagógica Marcia Rasia Figueiredo, em um dos encontros formativos da Formação Continuada Territorial da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, através do Instituto Anísio Teixeira. E ela topou. A ideia era retratar a formação e ela, então, traduziu em uma poesia os desafios, as saudades e os aprendizados que estavam mudando seu olhar sobre o fazer pedagógico. A educadora é coordenadora pedagógica na cidade de Barreiras, Núcleo Territorial 11 – Bacia do Rio Grande, no Colégio Municipal Padre Vieira, há mais de quinze anos. No município, a formação teve início neste ano de 2020, através da expansão da formação continuada que já estava em curso com os educadores das escolas estaduais. Os versos iniciais do poema já chamam a atenção:

“Se não fosse a formação
Não teríamos a vontade de reaprender,
Ser coordenador e educador”

 

Maturidade e experiência em contraste com o novo, com o deslocamento de zonas de conforto, permeadas pela avidez por conhecimentos que possam trazer mais qualificação e poder de realizar o que é imprescindível para que o aprendizado do alunado - na esfera mais importante, no chão da escola - seja efetivo. E nesse quesito, a educadora e poeta, membra da Academia Barreirense de Letras, se posiciona: “sou uma entusiasta da educação”.

Leia o poema na íntegra!

Atravessando a vida dos educadores com novos saberes, trazendo a realidade para o centro das discussões e promovendo a troca de experiências para a solução de questões da pedagogia cotidiana, a formação continuada é citada pela educadora como crucial para os que atuam como coordenadores pedagógicos: “a formação veio em um momento importante e decisivo na identidade do coordenador porque, pelo menos aqui no município, há muitos anos não tinha uma formação”. 

E sabendo que o aprendizado contínuo é essencial para um educador, ela conta que, através da formação, os coordenadores têm podido rever as suas funções, e até mesmo entender as especificidades do trabalho que muitas vezes são desconhecidas ou esquecidas em meio a afazeres e situações do dia-a-dia escolar. Esses aspectos ficaram registrados no poema, que ela intitulou “Se Não Fosse a Formação”:

“Se não fosse a formação,
Não pensaríamos em nossos comportamentos,
Nossos valores, nossas vidas, nossa identidade como coordenador
E professor!”

 

Segundo a educadora, o reconhecimento do papel do coordenador pedagógico tem sido um dos grandes benefícios da formação, junto com o reposicionamento do planejamento, antes “colonial e tradicional”, nas suas palavras. Para ela, a formação desmistificou o plano pedagógico elevando-o a um patamar mais estratégico, com mais foco e objetividade. Sobre o dia-a-dia como coordenadora, também em seus versos, está traduzida a contribuição da formação:

“Se não fosse a formação,
Os planos, os projetos, as agendas,
Não mostrariam o caminho, a trilha,
Aflorando o nosso melhor”

 

E ela explica: “a formação trouxe uma coisa nova, que é a agenda, um norte pra não cair nas ações episódicas da escola. A agenda traz ritual, foco, isso é inovador. Além da parceria da gestão. A coordenação sozinha não consegue ter sucesso sem a parceria com a gestão. O curso trouxe a dimensão de Heloisa Lück, em que o gestor não pode estar apenas nas funções administrativas, tem que estar na pedagógica, voltadas para o ser humano e para a aprendizagem.” Na formação, conta, as relações humanas, socioemocionais e o autoconhecimento também estão no centro das discussões, tal como a BNCC determina ao elencar as 10 competências a serem desenvolvidas pelos alunos na educação básica.

 

E por estarem vivendo a formação em um momento diferenciado, com muitas particularidades relacionadas ao processo de pandemia, aproveitar esses encontros de formação tem outros sabores, conforme retrata sua poesia quando fala sobre a saudade da escola, da rotina, das práticas diárias e do que fervilha na escola, como o som entusiasmado das crianças no recreio! Sonhando com a volta, que acredita que será diferente de tudo o que a instituição escolar viveu até hoje, a coordenadora acredita em três palavras de ordem: ajustar, readaptar e reaprender. No contexto da formação, encontrou meios para se aproximar destes termos e transformá-los em prática, como as novas tecnologias com as quais teve certa dificuldade inicial, um impulso para que se aproximasse das novas mídias.

 

Ela lembra Paulo Freire quando acrescenta “só muda quem deseja mudar”. E a formação ajudou-a a conhecer, como expectadora, as ferramentas que agora busca aplicar em seus encontros virtuais com os professores. Quando questionada se a formação está contribuindo efetivamente no desenho do “novo”, da nova escola pós-pandemia é categórica: “eu não tenho dúvida nenhuma (...) minha resposta é sim.”.

“Se não fosse a formação,
Não entenderíamos o que Nóvoa sinalizou,
Não podemos ficar parados,
Tudo deve fluir, tudo deve seguir(...)
Não leríamos o livro “Imagens do futuro presente”
Que é agora!
Que pulsa e quer ficar...e fica!”(...)

 

O momento, conta, tem possibilitado maior dedicação à leitura, o que é incentivado pela formação e bem recebido nas atividades complementares entre os professores e a coordenadora.  Nesses, como tem uma grande aproximação com a Literatura, tem trazido referências para os professores que, por conseguinte, estão buscando fazer esta ponte com os alunos. “Então esse momento está dando margem para a gente estar fazendo leituras e pensando se essas leituras estão conectadas com a nossa ação na escola.” Ainda que virtualmente, os frutos do trabalho estão sendo colhidos. Ela cita, orgulhosa, uma aluna que, a exemplo da coordenadora, escreveu uma poesia a partir da leitura do livro “O Jardim Secreto”, fazendo posteriormente um vídeo que compartilhou com a professora e colegas.

A coordenadora completa que vê fortalecido em si o entendimento de que a formação é um processo não estanque e colaborativo e destaca que a formadora Givaédina foi uma inspiração em seu processo criativo na escrita desse poema, não apenas como incentivadora: “o jeito que ela nos trata, que ela conduz a formação, isso foi uma inspiração. (...) Também o aprendizado, as buscas... a gente está o tempo todo buscando e aprendendo, cada dia a gente aprende mais.” E como não poderia deixar de ser, nesta troca constante e ininterrupta de saberes e conquistas, ela também se faz inspiradora quando finaliza o seu poema “Avante formação”.

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