Formação Continuada fortalece projetos pautados nas questões de identidade e território

O município de Casa Nova já foi cantado em verso e prosa. A mudança geográfica por conta da construção da barragem de Sobradinho, que promoveu o alagamento do seu local original, além da sua história, geografia e diversidade de atividades econômicas tornam o município um espaço rico para pesquisas e suporte às aprendizagens dos mais de 13 mil estudantes das redes municipal e estadual. Mas como fomentar neles as questões identitárias sob a perspectiva territorial? Que ações podem ser desenvolvidas para promover o entendimento do território como um espaço educador em suas potencialidades?

 

Estes questionamentos estão sendo respondidos no ambiente do Plano de Formação Continuada Territorial, promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, através do Instituto Anísio Teixeira. Nos encontros formativos, os profissionais do NTE 10 (Juazeiro - Sertão do São Francisco), do qual Casa Nova faz parte, estão criando juntos formas de fortalecer o território através de projetos educacionais que explorem suas potencialidades.

 

O educador técnico pedagógico Josimar Amorim participa da formação desde o comecinho, em 2019, e conta que a formação vem contribuindo desde então para as ações da secretaria junto às unidades escolares da rede: “Uma base para nossas ações. A formação continuada traz, além das reflexões, a interação, o avizinhamento, dando a possibilidade de fazer um trabalho estrategicamente pensado.”

Segundo Josimar, a questão territorial vem sendo tratada na formação desde o ano de 2020, o que reforça o entendimento de cada “sujeito” educacional (professor, aluno, membros da dupla gestora ou da equipe técnica) como parte fundamental do território com o qual se relaciona histórica, geográfica, econômica e socialmente. “Na formação, vemos o território como potencial a ser trabalhado na perspectiva pedagógica de projetos.”

E um dos projetos que surgiu a partir disso foi o "Casa Nova, Uma Terra de Riquezas". O projeto intencionou, a princípio, comemorar o aniversário de 142 anos da cidade, mas se tornou muito maior, com a participação de todas as escolas, estudantes, pais e comunidade. “A formação ajudou a pensar esse projeto dos 142 anos do município, potencializando todas as áreas, tudo que é forte na região, na localidade, na comunidade: turismo, energias eólica e solar, agricultura irrigada, enocultura, caprinovinocultura, o homem e a mulher do campo, enfim, nossas riquezas”, conta Josimar.

Corroborando deste pensamento, Nadja Valéria Dias, coordenadora pedagógica na Escola Municipal Alano Viana de Araújo, aponta para o avizinhamento como principal contribuição da formação para as questões de território e identidade. “Cada um coloca a sua história, o seu ser, o que seu município traz, o que é cultura, o que é comum, qual a prática pedagógica que é desenvolvida. É a maior contribuição da formação, uma vez que a educação precisa dessa troca de experiências.”

De acordo com Nadja Valéria, “as práticas pedagógicas que emergem da territorialização são possibilidades de referenciar dentro do currículo as questões locais, promovendo consciência socioambiental e o respeito a si e ao outro para que os alunos possam refletir sobre o território, história, cultura, fauna, flora, economia, seja na cidade sede ou interior. Assim fomentamos o respeito a si e ao outro e valorizamos a diversidade dos indivíduos dos diversos grupos sociais. As práticas precisam ser nesse sentido, aproveitando o que há de melhor em cada localidade e a riqueza do que cada aluno traz consigo.”

 

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Todas as escolas do município participaram do projeto com produções dos discentes, que posteriormente foram apresentadas em uma live, no dia 21 de junho, um dia após a data em que se comemora o aniversário da cidade. O aluno Aquilla Passos, que estuda na escola coordenada por Valéria, abriu os trabalhos com a poesia "De São José do Riacho à Casa Nova: 142 Anos".

 

Estudante do 9º ano, ele tem 13 anos e conta que foi incentivado a escrever por uma professora de Língua Portuguesa, Pró Iraíldes. “Ela disse que eu tinha grande potencial, então comecei a estudar sobre a história e dentro disso, observei o que rimava e fiz a poesia.” Nos seus estudos, descobriu que a sua cidade já fora cenário de uma guerra, a do Pau de Colher: “Me surpreendeu”. Aquilla tem planos de estudar arquitetura, tem vontade de conhecer as ruínas da cidade velha e disse que a partir desse trabalho, passou a pensar na cidade de forma diferente: “A maior riqueza de Casa Nova é a história”.

O trabalho com projetos está pautado nas concepções de Educação Integral, tema que os educadores também vêm tratando nos encontros da formação continuada. Josimar conta que, embora na cidade não haja escolas de tempo integral, eles promovem uma educação que considera a integralidade: “Educação como espaço de conhecimento sobre o território. Ao conhecer o território, se dá a possibilidade de interferência.”

“O sujeito é fruto desse processo integral de vida, não apenas social, mas emocional, física, cultural, intelectual. Isso que a gente trabalha na formação, dentro do contexto de integralidade, dentro dos pilares da inclusão, da sustentabilidade, da conexão entre escola e entorno”, completa Josimar.  

A formação continuada em Casa Nova, atende até as comunidades mais distantes, chegando a 120km da cidade sede. Josimar conta que entre visitas presenciais e plantões pedagógicos, os membros da secretaria apoiam as duplas gestoras na realização das atividades. “Toda e qualquer formação e essa em especial só se torna viável se tirarmos do papel. A gente acredita que a formação pode melhorar nossa relação, orientar nosso avanço no ideb, por isso a gente tem se debruçado”.

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