Entrevista com Jaqueline Moll

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“Nós trabalhamos com a ideia do território educativo. O que queremos é juntar a sala de aula e o espaço escolar. O ideal seria retomarmos a ideia do Anísio Teixeira, e pensarmos em mais escolas parques”.

Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ex-diretora de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), a doutora Jaqueline Moll participou do 5ª Seminário Estadual de Educação Integral, promovido pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT) e pelo Comitê Baiano Territorial de Educação Integral Integrada (CBTEII), em Salvador. Nesta entrevista, ela fala sobre cenário atual da educação integral no Brasil.

Como você descreve o panorama da Educação Integral no Brasil?

Eu tive uma experiência bem significativa no ministério da educação de 2007 a 2013, dirigindo a diretoria de educação integral, e colocamos como tarefa trabalhar essa retomada da ampliação da jornada escolar com a visão de formação humana integral e aplicar os diferentes entes federativos nesse trabalho. Foi um esforço muito grande, como plantar sementes e nós focamos em reconstruir conceitos sobre o tempo escolar porque no Brasil, nós temos naturalizado uma visão muito encurtada da educação escolar. As famílias se conformam com quatro horas diárias. Nós fizemos todo um trabalho de construção e eu diria que, se a gente quiser pensar um mapa do Brasil, vamos ver que em todos os estados da federação temos sementes plantadas a partir dessa ação desencadeadora, representada pelo programa Mais Educação. Então eu diria que o País está caminhando nessa perspectiva e construindo a consciência de que é preciso estar mais tempo dentro da escola. Não precisa ser só dentro do espaço da escola, porque trabalhamos a ideia do território educativo, juntamos essas duas coisas e, na configuração das escolas que temos hoje, o ideal seria retomarmos a ideia do Anísio Teixeira, e pensarmos em escolas parques.

Qual a sua opinião sobre o movimento da educação integral na Bahia?

Na Bahia, diria que aqui nós temos um dos movimentos mais fortes e articulados pelos comitês de educação integral. A Bahia é um dos estados que desponta com essa grande articulação territorial que reúne gestores, professores e figuras públicas de diferentes áreas para pensar a educação integral como uma política integradora de várias outras políticas.

Durante esses dois dias acontece o 5ª Seminário Estadual de Educação Integral promovido pelo IAT. Qual a importância desta discussão?

O 5º Seminário é reflexo das sementes que plantamos durantes esses anos e que seguramente representa muito na construção desse caminho. O tema dessa vez é sobre a formação docente, que é um tema estrutural porque a escola de tempo integral implica num outro jeito de lidar com conhecimento e com os estudantes. Ela busca o trabalho coletivo e a dimensão do saber, como Anísio trabalhou o tempo inteiro na perspectiva de uma escola que desenvolvesse as habilidades para o mundo, que desenvolvesse as mãos. O IAT honra o seu nome, quando promove um evento como esse.

Como você avalia a ideia de alterar a Lei nº 9.394/1996 para instituir, entre outras coisas, a jornada em tempo integral e modificar a organização dos currículos escolares, de modo a enfatizar a formação dos alunos por áreas do conhecimento?

Se for pesquisado o movimento do Ministério da Educação a partir do ano de 2006, vai estar lá, a obrigatoriedade de alimentação escolar para o ensino médio, que é o alimento importante para a permanência do estudante, o transporte, o livro didático, o Brasil Profissionalizado que é um programa retoma a relação da integração entre a formação profissional e humana, que vai ajudar os estados a refazer a sua malha física para a formação do trabalho. Depois o ensino médio inovador, e por fim, o pacto pelo ensino médio. Então o País tinha um caminho que vai ser interrompido, aliás sobretudo as ações do pacto pelo ensino médio, por conta de uma medida provisória, que de algum jeito, estanca o debate e impõe uma mudança, que do meu ponto de vista deforma a escola. Eu não tenho dúvida e quero deixar isso bem claro, que é preciso sim repensar o ensino médio, mas não há como, em um país com uma diversidade de experiências de ensino médio que nós temos querer colocar tudo isso em uma forma só e, muito menos imaginar que se pode fazer formação de jovens excluindo arte, filosofia, sociologia, educação física e espanhol.

 

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