Educadores baianos compartilham experiências com aplicação da prova SAEB

No Colégio Estadual Luiz Viana Filho, em Santa Brígida, no norte baiano, uma conversa sobre avaliação externa com os professores e estudantes acabou mudando a cara da escola. Quando começaram a analisar o que poderiam fazer para melhorar as aprendizagens, e, consequentemente, os resultados do colégio, viram que precisavam enfrentar um problema maior: a evasão escolar e a distorção idade-série. Além de modificar o planejamento das aulas, criaram um projeto de iniciação científica para discutir esses temas. E o resultado dessa pesquisa acabou embasando a criação de turmas do EJA (Educação de Jovens e Adultos), para que aqueles que tiveram que deixar a escola pudessem voltar a estudar. 
 
Essa experiência foi compartilhada pela coordenadora pedagógica do colégio, Carla Assis dos Santos, durante mais um encontro do Plano de Formação Continuada Territorial, promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT) com educadores de 414 municípios baianos. Nas últimas semanas, coordenadores e diretores escolares das redes estadual e municipais estão socializando práticas de referência com a aplicação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica(SAEB), que será realizado novamente neste ano. 
 
Carla participou da reunião de avizinhamento do NTE 17 (Semiárido Nordeste II), que reuniu no dia 8/10 as turmas das formadoras Elisa Ribeiro e Ionaia Souza. O encontro foi aberto por um outro formador convidado, Edson Fernando, que falou sobre a importância do olhar integral para a educação. "Podemos discutir as portarias, mas precisamos identificar quem é o nosso estudante. Eles são a razão pela qual nós estamos aqui presentes nesse momento". Edson também lembrou que entender os números da escola é uma tarefa de toda a comunidade escolar.  
 
A experiência trazida por Carla ilustrou bem a potência da construção coletiva de estratégias. Ela contou que as reuniões começaram com rodas de conversa entre os professores e os líderes das turmas, até que a discussão se estendeu por toda a escola. "Nós fomos aprendendo juntos e vimos que precisávamos conversar com todos, para que todo mundo soubesse o que era IDEB, SAEB. Isso fez com que toda a escola se mobilizasse. Parece pouco, mas quando todos são envolvidos, eles se apropriam daquilo. Houve uma mudança de comportamento". 
 
E quando eles repararam que a questão não era tanto a nota dos estudantes, mas a evasão escolar, foi a hora de partir para a pesquisa, para não ficar só no "achismo", como contou Carla. "Um professor teve a ideia de fazer o projeto de iniciação científica e daí os estudantes foram para as entrevistas, para entender por que os colegas tinham deixado a escola, por que não conseguiam se dedicar aos estudos. Daí veio a necessidade das turmas de EJA, que surgiram como o resultado dessa pesquisa, por causa da mobilização para o SAEB. Foi a coisa mais acertada que a escola fez. Nós começamos com essas turmas em 2020 e mesmo com o ensino remoto, elas são um tesouro pra nós". 
 
Este ano, as discussões sobre as avaliações externas já foram retomadas na escola, com rodas de conversas online com os líderes dos estudantes. Eles também estão promovendo reforço de língua portuguesa e matemática com a ajuda dos monitores e plantões para resolução de questões do Enem, do Sistema de Avaliação Baiano de Educação (SABE) e do SAEB. 
 
O encontro do NTE 17 trouxe ainda a experiência da rede municipal de Ribeira do Pombal, que com 5,8 no IDEB já ultrapassou a meta projetada para 2021 nos anos iniciais e que também tem um bom desempenho nos anos finais, com 4,7, acima da meta projetada para 2019. As práticas adotadas pelo município foram apresentadas por Maria José Silva, diretora pedagógica na secretaria de Educação, e por Izadora Nascimento, coordenadora pedagógica na Escola Municipal Doutor Décio de Santana, que fica na zona rural da cidade. 
 
Maria José contou que eles compreendem o SAEB como mais uma avaliação dentre todas as outras que realizam na rede. "Para nós, é muito mais do que nota do IDEB. É perceber como a gente pode contribuir para a aprendizagem dos nossos estudantes. Todos os nossos meninos e meninas, adolescentes, jovens e adultos têm direito à aprendizagem, e é isso que a gente tem buscado garantir".  
 
Em Ribeira do Pombal, os professores do 5º e 9º ano participam de formações específicas. Os coordenadores da secretaria também visitam todas as turmas desses anos para mostrar os resultados atuais aos estudantes e para projetar metas.  "Eles perguntam quais resultados os estudantes acham que podem alcançar, e o que querem para a sua escola. Ter alguém da secretaria na aula já cria um clima diferente, os anima". 
 
Na escola onde Izadora trabalha, a comunidade escolar também foi envolvida no planejamento para o SAEB. "Nós promovemos muitas rodas de conversa com os alunos, os familiares, mostramos os dados. É um trabalho continuado. Não adianta chegar dois meses antes da prova SAEB e dizer: 'Ah, agora vamos fazer...' É no dia a dia, no planejamento de cada aula. Conseguimos passar de 3,5 para 5,3 e foi uma alegria. Nós levamos os alunos para um passeio na pizzaria, para comemorar". 
 
Trabalho orquestrado
 
Em outra reunião, as recomendações da coordenadora pedagógica da Escola Municipal Ouricuri, Edilucia Perazzo, são simples: “Essas capacidades e habilidades não surgem espontaneamente!”. Ela se refere às competências e habilidades do SAEB e a importância do trabalho orquestrado entre gestor, coordenador e professor para o desenvolvimento das aprendizagens. Edilucia apresentou a experiência do colégio de Souto Soares em uma reunião de avizinhamento do NTE 3 (Chapada Diamantina), realizada em 8/10, última sexta-feira, com as formadoras Maria Joselma Noronha e Michelle Rios.
 
A experiência “Leitura em Todas as Áreas” partiu do estudo sobre proficiência leitora desenvolvido na formação continuada e objetivou aprofundar o conhecimento dos professores acerca dos dados do SAEB para compreender a situação escolar e qualificar o planejamento das situações de ensino. As iniciativas que mais tiveram sucesso foram as tertúlias literárias e as leituras colaborativas, além de iniciativas de oportunidade, como o São João literário e as leituras em família, para as quais a escola manda livros para a casa dos estudantes.
 
“Os alunos se envolvem muito. Os princípios da aprendizagem estão inseridos na tertúlia. O aluno é ouvido em seus argumentos, sabe que está sendo considerado e isso vai dando sentido para a vida escolar. O aluno se sente valorizado e conforme os estudos vão avançando, ele traça uma comparação com a sua vivência. Esses conhecimentos os instrumentalizam, se misturando com o saber da sua família: pais, avós, antepassados”, diz Edilucia. Sobre as leituras colaborativas, ela conta que eram realizadas por meio eletrônico, depois passou para as aulas semipresenciais. Segundo a coordenadora, os alunos, mesmo sem ler os livros previamente, fazem intervenções sempre muito pertinentes e a escola já percebe os avanços nos resultados dos simulados para a prova SAEB. “As tertúlias vem mudando não só os alunos, como os professores”.
 
 
Sobre o Plano de Formação Continuada Territorial 
 
A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira realiza a Formação Continuada para Gestores Escolares, Coordenadores Pedagógicos das redes municipais e Estadual, além das Equipes Técnicas das Secretarias Municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo mais de 9 mil educadores e técnicos de 414 municípios dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.

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