Assim como os estudantes, os diretores escolares e coordenadores pedagógicos ganharam tarefas em novos encontros do Plano de Formação Continuada Territorial, promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT) em 414 municípios baianos. Os exercícios de Língua Portuguesa e de Matemática serviram de base para identificar habilidades previstas nas avaliações externas e para exemplificar como essas discussões podem ser levadas aos professores nas escolas, garantindo a progressão das aprendizagens.

No encontro de avizinhamento do NTE 19 (Portal do Sertão), que aconteceu no último dia 5 de outubro, os educadores tiveram que localizar numa régua numérica onde ficava o "3 +1/4", ou o "-1,5" no exercício de matemática. Já no de Língua Portuguesa, eles se dividiram em grupos para apresentar a leitura dramática de um dos contos do livro "Histórias de Alexandre", do escritor Graciliano Ramos. 

A formadora Airam Prado conduziu a atividade de matemática e mostrou como o exercício se relacionava às habilidades avaliadas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica(SAEB) no 5º  e no 9º  ano, em diferentes níveis da escala de proficiência. Posteriormente, a formadora propôs uma reflexão, para ser multiplicada nas escolas, em momentos como o das Atividades Complementares (ACs): "Quais direitos de aprendizagem não foram garantidos, quando verificamos nossos planos, tarefas, atividades, projetos?"

Na sequência, foram apresentados os resultados alcançados pelos municípios da região no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), divulgado em 2019. A formadora Rosângela Almeida lembrou que também é importante levar esses dados para serem discutidos nas escolas com os professores e a comunidade, para que os resultados das avaliações tenham um uso pedagógico, amparando a gestão das aprendizagens. Neste ano, as provas do SAEB serão aplicadas no período de 8 de novembro a 10 de dezembro, de modo censitário para Matemática e Língua Portuguesa e de modo amostral (com escolas selecionadas) para Ciências da Natureza. 

• 
• 
• 
• 
• 

A pauta de Língua Portuguesa foi apresentada pela formadora Líbia Gertrudes. Os educadores se reuniram em grupos para vivenciar a estratégia da leitura dramática e da leitura compartilhada, a partir de um texto literário do escritor alagoano Graciliano Ramos. A educadora Rita Menezes, que por alguns momentos incorporou os personagens do livro, gostou da experiência. "Foi uma aventura! É muito interessante, ler, dramatizar e tentar trazer um pouco de cada personagem. O texto dá margem para trabalhar várias coisas em sala de aula". 

Mais do que teorizar sobre essa leitura, Líbia queria justamente isso, que os educadores pudessem falar com propriedade de algo que vivenciaram. "A leitura dramática trabalha um conjunto de emoções e uma série de habilidades, como o uso do discurso direto e indireto. A própria leitura em voz alta não deve ser vista apenas como fruição. É algo que ajuda na interpretação do texto, na semântica, na pontuação. Mas pode, sim, permanecer como algo lúdico, para que os estudantes possam brincar com os personagens, planejar a leitura, pensar a partir desse lugar". 

Avaliações externas e avaliações formativas

Em 01 de outubro, na região da Chapada Diamantina (NTE 3), os educadores que participam do plano de formação continuada nas turmas de Michelle Rios e Maria Joselma Noronha estiveram presentes em um encontro que objetivou trazer um olhar mais prático sobre as pautas formativas. Partindo da avaliação externa como norteador, as formadoras trouxeram conceitos e atividades práticas para fortalecer os conhecimentos didáticos e, assim, relacioná-los às habilidades e competências da prova SAEB.

A ideia também era qualificar as atividades complementares com os professores, promovendo a transposição didática para os momentos de aula nas áreas de língua portuguesa e matemática. A formadora Michelle explica: “Precisamos trabalhar as habilidades e competências de forma a relacioná-las com a prática. Refinar o olhar para os gêneros, as habilidades e os descritores das avaliações. As avaliações podem ser o começo de um ótimo trabalho porque elas trazem um bom diagnóstico de como está a escola.”

A formadora alertou para a adaptação dos educadores para um novo modelo, que se baseia menos nos conteúdos em si e mais nas habilidades que o trabalho com cada conteúdo desenvolve nos estudantes: “É um caminho para o novo ensino médio”. Segundo ela, o trabalho com o continuum curricular evidenciou essa necessidade.

“Nada mais é do que a gente entender o que busca com aquela aprendizagem. Ter um currículo vivo dentro das escolas é um desafio para nós, entender que estamos a favor da aprendizagem, não especificamente do conteúdo. Olhar para o conteúdo sabendo o que acionar, que habilidades desenvolver para que o aluno consiga entender aquele conteúdo.”

Antes de partir para a atividade, a educadora Alcione Alves, concordou: “São as habilidades e competências que devem reger o trabalho do educador. Quando não se leva isso em conta, o trabalho é fragmentado.” 

A atividade proposta pelas formadoras foi justamente analisar textos de diferentes gêneros e relacionar quais habilidades poderiam trabalhar com os estudantes. Poesia, charge, reportagem e crônica foram os gêneros escolhidos e divididos entre os grupos de coordenadores pedagógicos e gestores escolares. Na proposta, os educadores deveriam, entre outras questões, justificar a escolha das habilidades e formular perguntas para serem feitas aos estudantes em um possível trabalho com os gêneros textuais. 

Além de formadora, Michelle também é coordenadora pedagógica e contou que faz formação leitora com professores de todas as áreas do conhecimento. Ela evidenciou a importância de primeiro possibilitar aos estudantes uma formação leitora para, posteriormente, ensinar conteúdos que ela classificou como capacitantes. “O objeto central não é o gênero em si, é a leitura e as capacidades de leitura. Ao trabalhar a habilidade de leitura é importante colocar essa intencionalidade. Fazer uma leitura exploratória, trazendo o conhecimento prévio de cada estudante, fazendo perguntas sobre os gêneros e o entendimento de cada texto. O texto é o capacitante para a leitura, não o contrário.”

Em matemática, a formadora Maria Joselma ressaltou o quanto a leitura é importante para o desempenho do estudante nesta área do conhecimento. Baseando-se na diferença entre avaliação externa e avaliação formativa, trouxe a necessidade de se reconhecer os diversos instrumentos de avaliação em matemática. Com relação à avaliação externa, a formadora propôs que alguns participantes explicitassem, através da resposta a três questões, a importância da avaliação externa e da participação dos estudantes neste tipo de prova, além de diferenciá-la da avaliação formativa.   

A educadora Raimunda dos Anos Sá Teles acredita na importância da avaliação: “Importante a avaliação externa porque é um pontapé para selecionar o que precisamos dar tratamento”. Outra participante, Joilma Alvez Carneiro, acredita na possibilidade holística da avaliação: “A avaliação externa avalia a instituição como um todo. Precisamos dela para depois saber como anda a educação no país, levantar os dados e identificar os investimentos necessários.”

Joelizia Margarete, educadora, sintetizou: “Avaliação formativa é a que o professor, com base no que trabalhou em sala de aula, procura identificar o que os alunos aprenderam. A avaliação externa visa aferir habilidades e competências que, espera-se, tenham sido ensinadas em certo momento da escolarização.”

Em grupo, os educadores avaliaram algumas atividades, fazendo as devolutivas sobre cada uma e observando detalhes a serem acrescentados. Um dos objetivos será potencializar estas atividades, corrigindo ou transformando-as em sequências didáticas. “O assunto da matemática está na nossa vivência, importante isso”, defendeu Ana Maria Teles, presente à reunião.

Sobre o Plano de Formação Continuada Territorial 

A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira realiza a Formação Continuada para Gestores Escolares, Coordenadores Pedagógicos das redes municipais e Estadual, além das Equipes Técnicas das Secretarias Municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo mais de 9 mil educadores e técnicos de 414 municípios dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.