Educadora de Seabra lança olhar para as emoções dos estudantes e conquista premiação nacional

Conhecer as emoções e sentimentos dos estudantes foi o que levou a coordenadora pedagógica, Janaina Barros, do Colégio Estadual de Seabra, a desenvolver o método de analisar e interpretar os escritos e registros no mobiliário da unidade escola. Com essa prática, a educadora, com mais de 22 anos de profissão, conseguiu nortear o seu trabalho, buscando atrair os estudantes para um aprendizado dinâmico e criativo que os envolvia de corpo e alma no conhecimento.
 
Mas passar por essa trajetória teve seus percalços. O destino quis que uma futura médica tivesse sua vida transformada por um triste acontecimento. Após a morte de seu avô, Janaina se viu sem opções em São Paulo, ao passar no vestibular da Universidade de São Paulo (USP). Sua mãe retornou para Seabra e, sem um apoio na grande metrópole, resolveu também voltar para o interior da Bahia. Seguindo um sonho antigo do ente querido que há pouco a havia deixado, decidiu prestar um concurso para professora do seu município, que ainda dava a possibilidade, aos primeiros lugares, de cursar Pedagogia na Universidade Estadual da Bahia (UNEB).
 
"Vovô foi o responsável pela criação de uma escola e igreja na comunidade em que vivia. E foi nessa unidade escolar que ele enterrou o meu umbigo no passeio, dizendo que eu seria professora. Então, nem sabia ele que a sua profecia ia se cumprir. Por isso, acredito muito que toda minha trajetória na escola pública foi definida antes do meu nascimento, pelo que meu avô acreditava: que a educação poderia proporcionar uma transformação na vida das pessoas", conta.
 
A escrita nos mobiliários serviram de metodologia durante a trajetória da professora pela alfabetização e Ensino Fundamental I e II. Na Escola Municipal Ivani Oliveira, de Seabra, teve o reconhecimento por meio do projeto Tecnologias Indutoras de  Aprendizagem (TEIA). O trabalho lhe proporcionou o prêmio "Espírito Público", concedido pelo Instituto República, em 2018. "Quando comecei a estudar sobre alfabetização, foi ficando muito claro como aproximar das escritas dos estudantes nos traz informações que são fundamentais, e não podem ser ignoradas, para pensarmos o que podemos ofertar para ele de ajuda e para que sigam aprendendo. Os projetos que realizava na escola, como formação de pais e funcionários das escolas; produção de currículos; e projetos de leitura, tinham como sustentação essas escritas feitas pelos estudantes no mobiliário e nas portas dos banheiros."
  
A iniciativa deu tão certo que o projeto da educadora virou documentário denominado de "Prova escrita" e vencedor do 10º Doc Futura, do Canal Futura. Como consequência, Janaína acabou sendo homenageada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), com uma Moção de Aplausos. A iniciativa, aprovada por unanimidade, foi solicitada pelo conselheiro corregedor Inaldo Araújo.
 
"Esse filme mostra as diversas possibilidades como podemos educar nossos olhos e ouvidos ao outro. Não é apenas rotular o estudante de problemático, mas entender o que está por trás deste comportamento. Com o filme, comecei a enxergar o meu trabalho de forma diferente. É uma tecnologia educacional humanizada, que tem como base princípios. É entender as escritas como um documento, a trajetória de cada um e também do coletivo. Com isso, o trabalho abre possibilidades de uma percepção maior de coisas que estavam invisibilizadas", afirmou.
 
Com as dificuldades da pandemia, o trabalho não parou. Foi criado o projeto "CESE em ação", no qual 60 monitores voluntários fazem o papel de interlocução entre profissionais da educação e a comunidade escolar. "A gente fala que esses monitores, além de estreitar essa relação, têm a capacidade de traduzir as inquietações dos colegas para que a gente possa replanejar o processo de aprendizagem", explicou Janaína, que falou sobre a sua maior conquista na educação: "Com certeza, foram os amigos. Se tenho condições de aprender, viajar, de acessar novos saberes é porque tive a oportunidade de encontrar pessoas incríveis. Por isso, o meu maior ganho são as pessoas que me levam a lugares desconhecidos na relação com o conhecimento e isso me torna, cada vez mais, sedenta por aprender".
 
 
Reportagem: Suâmi Dias

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