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ARTIGO| Educação antirracista prepara para a vida e para o ENEM
Rowenna Brito
Secretária da Educação do Estado da Bahia
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) se estabeleceu no sistema educacional brasileiro como o maior e mais democrático caminho para o acesso à universidade. Os dias da aplicação das provas são repletos de sonhos, expectativas e desejos, sendo que alcançar uma vaga em uma instituição pública e ter acesso a programas de bolsa em faculdades privadas são os ideais de quase todos os jovens, adultos e até idosos que fazem as provas.
Desde o início da minha carreira como professora, na rede pública estadual, apostei todas as minhas fichas e estratégias pedagógicas na construção de uma escola pública que alimente, diariamente, o desejo dos nossos estudantes em adentrar o espaço do Ensino Superior. Ensinava Geografia e deixava evidente que “quem tem limite é município”; que barreiras podem e devem ser transpassadas; e que a cartografia da nossa existência tem que ser traçada com estudo, perseverança e consciência política.
Fiquei extremamente feliz quando agora, em 2024, primeiro ano da minha gestão à frente da Secretária da Educação do Estado da Bahia, finalmente popularizamos o ENEM entre os estudantes da rede pública. Chegamos a 100% dos atuais estudantes da 3ª série do Ensino Médio inscritos no ENEM, como revelou o Ministério da Educação. Para além de um número ou de um marco histórico, fica a certeza de que a esperança de adentrar “os bancos da ciência” está viva. A escola estadual cumpriu uma das suas diversas funções sociais: fomentar entre a juventude o desejo pela ciência e a perspectiva de aprender sempre e mais.
Como disse no início do texto, o dia da prova é um dia de celebrar o conhecimento e posso até afirmar ser festivo. Fomos às portas das escolas, distribuímos palavras de incentivo, canetas para quem não levou e também entregamos água, que, além de matar a sede, também diminui a ansiedade. Mobilizamos o transporte escolar, o acesso livre ao metrô e a participação das escolas estaduais de todos os municípios do nosso Estado.
Deixei para falar sobre o tema da redação no final, não pelo grau de importância, muito pelo contrário. Mas, justamente, pela potência que é construir sociedade e escola antirracistas. O tema proposto pelo ENEM 2024 conclamou os milhares de estudantes que fizeram o texto, e também os brasileiros que não o fizeram, a reconhecer, valorizar e visibilizar o vasto legado científico, cultural, artístico e ancestral da África que nos construiu.
Preparar para a vida não cabe nas linhas do texto de uma redação, enfrentar o racismo estrutural também não! Mas, nas teias que compõem o complexo texto da nossa sociedade, não caberão os racistas. E, neste ponto, a escola que prepara para a vida alcança a nota 1000.
Publicado no Jornal A Tarde de 07/11/2024
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