Sexta-Feira Especial para a Educação Baiana: Seminários Saberes e Fazeres Chegam ao Quinto Dia

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Pelo quinto dia consecutivo, os Seminários Saberes e Fazeres reuniram educadores baianos das redes municipais e da rede estadual para partilhar as experiências desenvolvidas ao longo do ano. Os encontros virtuais são promovidos pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT/SEC), e trazem práticas de referência construídas ou fortalecidas a partir do Plano de Formação Continuada Territorial. Nesta sexta (10/12), foi a vez dos Núcleos Territoriais de Educação Sertão do São Francisco (NTE 10), Bacia do Paramirim (NTE 12), Litoral Sul (NTE 5) e Vale do Jiquiriçá (NTE 9), que juntos abrigam 63 cidades. 

Os encontros, que acontecem pela manhã e pela tarde, são transmitidos pelo canal do IAT no Youtube - onde permanecem disponíveis - e já contam com mais de 30 mil visualizações. 

O dia começou entre poesias e prosas com uma apresentação de educadores do NTE 10, que produziram um livro a partir dos encontros de formação continuada. Na publicação, organizada pelos formadores Nazarete Mariano, Alessandra Pacheco, Adriana Ramos e Mábio Dutra, setenta coordenadores pedagógicos e gestores escolares do Sertão do São Francisco contam suas memórias de aprendizagem literária, num resgate que potencializa uma aproximação ainda maior com os estudantes e com o poder transformador da leitura. "A formação foi além da questão dos planos estratégicos. Ela nos trouxe a memória do prazer de aprender. Um prazer que temos que desenvolver com nossos estudantes também", disse Wildes Araújo, uma das autoras do livro. 

Michelle Laudilio, gestora do Colégio Estadual Misael Aguilar Silva, registrou no posfácio da obra "Encontros, Poesia, Prosa e Palavras" que a publicação "só foi possível devido à formação continuada" e agradeceu aos educadores que participaram do projeto.  "Acredito que escrever esse livro também foi reescrever histórias. Gratidão a cada escritor por me lembrar que distância não é ausência e que a educação, apesar de estar sempre entre desafios, é regida por profissionais resilientes". 

Experiências que comprovam essa resiliência espalharam-se pelos seminários. Em Sobradinho (NTE 10), a secretaria municipal de educação promoveu durante a pandemia o plano "Nenhum a menos, todos conectados", que ofereceu atividades remotas aos estudantes, além de um guia de orientação aos pais, totalizando mais de 600 horas de aula. Maria Givanice Santana, técnica da secretaria municipal de Educação, contou que a formação continuada foi muito importante para planejar essas ações. "A formação nos deu condições de remodelar o presente com um olhar para o futuro. Para 2021, temos muitos desafios: formar professores, reforço escolar em massa, avaliação externa do Saeb. O plano de suporte estratégico oferecido na formação nos deu condições de nos prepararmos".

Em Sento Sé, as atividades pedagógicas também não pararam com a suspensão das aulas presenciais. Giselda Rodrigues, da secretaria de educação da cidade, falou sobre as aprendizagens de estudantes e também de educadores conquistadas neste ano turbulento e também destacou a importância da formação continuada, especialmente por ter proporcionado um olhar mais cuidadoso para os anos finais do Ensino Fundamental. "Antes a gente não priorizava a formação para os anos finais. Era algo que sonhávamos e que chegou num momento muito especial, trazendo uma linguagem mais próxima, conceitos teóricos, questões legais. Isso tudo foi organizando e fortalecendo a rede, criando um vínculo maior da secretaria com essa etapa de ensino. Nós pudemos melhorar nossas práticas pedagógicas e também a gestão escolar com uma relação muito mais próxima, de mais diálogo e companheirismo, percebendo o processo de uma forma mais clara". 

Do NTE 12 vieram as práticas pedagógicas da Escola Quilombola Padre Aldo Coppola, que fica no distrito de Castanhão, em Ibipitanga. Nas aulas remotas, os estudantes continuaram aprendendo sobre a história e a cultura afro-brasileira numa perspectiva de construção de identidade e reconhecimento da ancestralidade, como contou Ocilene Rosa dos Santos Oliveira, da secretaria municipal de Educação. A experiência se espalhou para outras escolas da cidade. "Desde 2017, nós temos um projeto, a Educação Não Tem Cor, que abrange toda a rede municipal. A culminância acontece no dia 20 de Novembro, dia da Consciência Negra". 

A manhã que começou com poesia e prosa terminou com um cordel. Alan Oliveira, gestor do Colégio Estadual do Campo de Ibipitanga (NTE 12), emocionou os participantes declamando "Pela Lente do Amor", de sua autoria, que entre versos diz: 

(...)
Como canta Gilberto Gil

Na canção que ele mesmo criou

O mundo é cheio de encantos mil 

Se a gente olhar pela lente do amor

Que pra mim é a mesma lente que o professor 

Toda vida usou

(...)

Educação é como um tesouro 

Que na sua mão brilha mais que ouro 

Mas só dá pra ver isso, só faz isso, olhando pela lente do amor. 

tarde foi marcada pela diversidade nas apresentações envolvendo os educadores dos NTEs 5 e 9. Influenciados pelos caminhos percorridos durante as atividades da formação, diretores, coordenadores e membros das equipes técnicas socializaram o planejamento, as ações e os resultados que foram obtidos pelas diversas redes representadas.

Os estudantes - sua aprendizagem - no centro do planejamento e do direcionamento dos projetos são uma constante nos trabalhos das redes que passaram pelas telas de quem estava conectado ao canal do IAT durante os seminários. Mas eles se mostram também, em um papel ativo e fortalecido, mesmo em meio às novas formas de ensino e aprendizagem que caracterizam esse momento de pandemia.

Numa escola com grande diversidade de públicos, localizada na zona rural de Maracás, NTE 9, os alunos são estimulados a participar de um grupo que contribui ativamente com a gestão escolar, o Clube de Líderes. É a Escola Luiz Braga que, dirigida por Aliádne Brito, promove discussões com os diversos públicos da unidade, numa gestão que a diretora chama de democrática e compartilhada. “O projeto dá oportunidade aos alunos de exercitarem a cidadania, as suas habilidades de liderança e de contribuir com a gestão escolar”, conta. Como resultado desta preparação, os estudantes se sentem aptos a participarem da vida em sociedade e a intervir de forma propositiva em suas comunidades.

Outro exemplo de jovens preparados para o exercício de uma vida social inclusiva e responsável é o grupo discente do Centro Educacional de Itacaré, no NTE 5. A professora Rita Jussara Reis conta que, nas aulas remotas, iniciaram uma série de discussões sobre temas de relevância social, como o racismo e a homofobia. A partir da trilha formativa discutida nos encontros do IAT, especialmente na questão sobre o cuidar no trabalho do coordenador pedagógico, passaram a levar em consideração com professores e estudantes a elaboração de projetos que evidenciassem ética e cidadania. Como o interesse em temas sociais era latente, mergulharam em um projeto chamado "Videos for Change", que dá voz aos jovens através da produção de vídeos de 1 minuto. O aluno Evaldo Moreno foi destaque com o vídeo “Homofobia é crime e diga não ao preconceito!”.

 

 

O projeto (Re)Conectados, do Colégio Estadual Senador Luís Viana Filho (Almadina, NTE 5) também se baseou nos estudos acerca da questão do cuidar e das perspectivas motivacionais dos conteúdos trabalhados na formação continuada. A partir destes estudos, o projeto promoveu uma série de formações com os docentes, para mobilizar, reintegrar e ressignificar as práticas frente à nova situação mundial. A coordenadora pedagógica Letícia Queiroz conta: “Nos amparamos muito na fala de Edgar Morin, a partir de um texto que trabalhamos em nossos encontros formativos, que tem como título 'Um Festival de Incertezas'. Este texto caiu como uma luva naquele momento ao nos chamar a atenção para a instabilidade que o mundo vive e quais as repercussões disso para a escola”. No pano de fundo desse trabalho está o planejamento, que, reitera a coordenadora, "é uma forma de cuidar”.

Em Canavieiras, o projeto "Descobrindo Talentos, Reinventando Histórias", que ganhou contornos nas atividades de formação continuada, foi a grande aposta para manter o vínculo família-escola. Trazendo a arte como conteúdo específico para suavizar as questões socioemocionais enfrentadas no contexto social, música e artes plásticas tiveram releituras em fotos e textos. Conforme apresentou a coordenadora pedagógica Gildeci Soares, do Colégio Municipal Osmário Batista, a obra "A Moça do Brinco de Pérolas", de Johannes Vermeer, foi inspiração para os estudantes. “A arte tem a função de aproximar o homem de si mesmo e esse é o momento que precisamos mergulhar em nós e nos conhecer, não só como profissionais de educação, mas como seres humanos.” 

 

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