Seminários da Formação Continuada movimentam educadores por toda a Bahia

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Neste ano marcado pela pandemia, as escolas ficaram fechadas, mas a educação não parou. É o que mostram os Seminários Territoriais Saberes e Fazeres, promovidos pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT/SEC). Desde segunda-feira (7), educadores baianos vêm compartilhando as experiências pedagógicas adotadas neste período, seus desafios e, especialmente, práticas de referência, construídas ou fortalecidas ao longo de 2020 a partir da Formação Continuada liderada pelo IAT e que reúne aproximadamente 9 mil educadores baianos, de forma remota

 

Até o dia 15 de dezembro, serão 14 seminários, abrangendo os 27 Territórios de Identidade da Bahia. Os seminários foram realizados pela manhã e pela tarde e reuniram estudantes e educadores dos Núcleos Territoriais de Educação da Bacia do Jacuípe (NTE 15), Médio Rio de Contas (NTE 22), Bacia do Rio Grande (NTE 11) e Piemonte Norte do Itapicuru  (NTE 25), envolvendo, ao todo, 54 cidades. Os encontros foram transmitidos pelo canal do IAT no Youtube - onde estão disponíveis - e contam com mais de 10 mil visualizações nestes dois primeiros dias.

 

A importância da formação continuada em contexto de serviço foi reafirmada pelo secretário da Educação do Estado, Jerônimo Rodrigues, que tem feito questão de participar da abertura de todos os seminários realizados até então. “Graças a formação nós podemos chegar a este momento de fazer a escuta, a crítica, a partir das experiências de cada território. Compreender e absorver tudo isso que vem sendo desenvolvido para fortalecer a gestão das aprendizagens”, disse.

A gestora escolar Táscia Macedo falou sobre as aprendizagens geradas pelo contexto pandêmico e as relações remotas a partir das experiências da escola que dirige na comunidade quilombola Alto do Capim, no município de Quixabeira (NTE 15).  Ela começou a apresentação contando que as reuniões da formação continuada foram fundamentais para definir as estratégias que seriam adotadas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Lúcio de Santana. "A formação foi muito importante nesse processo, porque nos colocou diante de outras realidades. A gente teve a graça de não planejar sozinha, de partilhar experiências. Isso foi muito rico".  

A primeira coisa que eles fizeram por lá foi mobilizar os professores para as atividades remotas e descobrir se os alunos tinham ou não acesso à internet. A partir desse levantamento, descobriram que precisariam distribuir atividades impressas para 20% dos estudantes. "Quando cheguei à escola, em 2019, percebi que eles tinham a auto-estima baixa. Diziam que não eram capazes. E agora, que os nossos meninos já estavam se enxergando de outra forma, a gente não poderia simplesmente parar. Eu também sou fruto da escola pública. Digo isso para eles. Não é porque está difícil que a gente vai parar. Esse foi um momento de aprender o quanto precisamos um do outro".

O papel do coordenador pedagógico como multiplicador e potencializador da construção de saberes em união com a equipe pedagógica da escola foi reconhecido nas apresentações, com destaque para o Colégio Estadual Nossa Senhora da Penha, em Catolândia (NTE 11). A coordenadora Meire Fabíola Silva conta como, em diversas etapas do processo formativo, puderam fazer a ponte entre a demanda da escola e o conteúdo compartilhado na formação: “Realizamos plano de formação dos professores em ACs, cujas pautas prioritárias, como a proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, foram motivados pela etapa 7 da formação continuada, em que estudamos sobre gestão de resultados”.

Dividindo as dificuldades, mas também as melhores experiências com a coordenação e o corpo docente, a gestão escolar teve destaque como referência para o  trabalho que, pautado no planejamento, possibilitou a implantação de ações e estratégias importantes para o desenvolvimento do aprendizado. Considerado pelo gestor escolar Damião Rocha, de Cariparé - Riachão das Neves (NTE 11) como “o pilar da gestão”, o plano de ação teve importância fortalecida nos encontros de formação. Ele acrescenta: “É um documento que precisa estar na mesa, sob os olhares de todos.”

O Cuidar

A importância de cuidar das aprendizagens, tema presente nos encontros de formação continuada deste ano a partir dos ensinamentos da professora doutora Laurinda Ramalho, guiou muitas das ações.  A coordenadora pedagógica Thiana Sena, que atua no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, em Jequié (NTE 22), onde também cursou o ensino médio, falou sobre a importância desse olhar para discutir o universo da escola. "Ouvi aqui no IAT conceitos que eu não tinha nem noção, que me ajudam nessa prática e nesse cuidado. Quero dizer que nós, escolas públicas, podemos muito. A escola pública já deu certo. A gente precisa valorizar, reconhecer e sair em defesa desse espaço. Cuidar da escola, dos seus sujeitos, dos seus alunos e professores". 

 

Erlândia Santos, assistente pedagógica do NTE 22, fez um panorama das muitas práticas exitosas desenvolvidas no território ao longo deste ano para assegurar as práticas educativas e manter o vínculo com os estudantes.  Além das aulas remotas, teve gincana virtual em Ipiaú, lives sobre saúde mental em Itamari, rodas de conversa sobre negritude e projetos de leitura em Jequié, como o realizado pelo Colégio Estadual Luiz Navarro de Brito no anexo prisional da unidade,  batizado de "Projeto Remissão pela Leitura". 

 

A coordenadora Kaliandra dos Santos contou como  a formação intensificou o projeto Comunidade de Aprendizagem, cujo diálogo e escuta integram a metodologia. Segundo a educadora, através do entendimento de que a escuta sensível, o afeto, o olhar cuidadoso potencializam o aprendizado, foi possível o desenvolvimento de novas relações, especialmente entre professor e aluno. “Nossos alunos não aprendem da mesma forma. Cada um tem um modo de fazer e suas bagagens têm que ser respeitadas.” Esta visão é compartilhada pela coordenadora de Campo Formoso (NTE 25), Maralyse Castro, quando  afirma: "Nosso principal objetivo na área educacional é cuidar de vidas.”.

A educadora do Colégio Municipal José Telésphoro Ferreira de Araújo conta como passaram a adotar uma proposta ‘ecopedagógica’, voltada para dar vida à unidade, ressignificando a educação e toda a comunidade educacional ligada ou não à escola. A proposta contou com oficinas, laboratório de ciências, robótica, rodas temáticas de valorização da cultura local, entre outros. Como resultado, conta como conseguiram formar alunos mais proativos e protagonistas do próprio processo de aprendizagem.

Já no Colégio Estadual do Campo Petrônio Portela, em Jaguarari, também do NTE 25, o projeto ‘O Meu Lugar no Mundo: Despertando o Projeto de Vida’, teve como pilar a construção com os estudantes dos seus projetos de vida para quando deixarem a unidade escolar. Inicialmente pensado para combater a evasão escolar, o projeto foi além, trazendo muitas trocas, experiências de vida de personalidades, ex-alunos e ex-professores da escola, sempre mostrando o potencial de transformação que a educação carrega. Quem conta é a coordenadora Cleiriane de Souza Dias. “O que chama atenção é a necessidade da escola estimular intervenções, fazer com que o aluno reflita sobre seu futuro, planos, sonhos e metas, estimulando o protagonismo e exercitando o autocuidado e auto-análise.”

Indicadores Educacionais

A formação continuada também estimulou um outro olhar para os indicadores educacionais gerados pelas avaliações internas e externas. Diretora do NTE 15, Nívea Araújo falou sobre a importância de desenvolver uma cultura de avaliação que subsidie, cotidianamente, as ações das escolas. "O IDEB pelo IDEB, o dado pelo dado, nada pode ter consequência positiva se a gente não tiver um programa de formação que seja muito bem amarrado. O IAT está de parabéns por não deixar que nossas escolas esmoreçam neste ano de 2020, para nos deixar motivados e mobilizados para fazer da educação um espaço que seja de real transformação da nossa sociedade". 

Considerada a importância da avaliação externa para a construção de políticas públicas e para o posicionamento das unidades escolares nas curvas de aprendizagem, fica unânime o entendimento de que “a avaliação externa não diz tudo, mas fala muito”, nas palavras do educador Júlio César Gomes, de Caldeirão Grande, NTE 25. As práticas integrais, que associam o investimento na proficiência voltado para a Prova SAEB ao planejamento articulado, bem como às avaliações escolares possibilitaram, no NTE 11, a melhoria gradual nas notas do IDEB. De acordo com Josélia da Silva, representante da equipe técnica do NTE, “a maior parte das unidades escolares conseguiu superar a meta para 2019”.

A secretária municipal de educação de Quixabeira, Gilvanda Sousa, falou sobre as intervenções que fizeram com que o município melhorasse seus indicadores educacionais e alcançar as metas para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental.  Uma das ações foi implementar um sistema de diagnóstico que começa no ensino infantil e vai até o 9º ano. "A escola só consegue intervir quando tem um diagnóstico concreto de onde o aluno parou". 

Os professores, coordenadores pedagógicos e gestores escolares têm acesso aos dados de cada turma e de cada estudante e podem, assim, sanar dificuldades de aprendizagem. As intervenções são sistematizadas e viram tema de formações internas. A secretária contou que a construção do referencial curricular de Quixabeira, que foi submetido a audiência pública, também foi um "divisor de águas" para que a cidade pudesse alcançar bons resultados. 

Destacando a contribuição da formação continuada territorial para a análise dos mitos e verdades sobre a composição da nota do IDEB, a técnica Amanda Bastos, da secretaria municipal de educação de Filadélfia (NTE 25), contou como a desmistificação da nota contribuiu para a elevação das escalas de proficiência. “A partir das formações, fomos entendendo a lacuna do município, a partir da leitura do IDEB.”

 

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