Retrospectiva: último dia dos Seminários Saberes e Fazeres emociona educadores

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Fim de ano é tempo de retrospectiva. Para a educação baiana, esse momento se deu durante as últimas semanas, entre os dias 7 e 15 de dezembro, período em que ocorreram os Seminários Territoriais Saberes e Fazeres. Nesses 7 dias, as redes de educação dos 27 territórios de identidade da Bahia olharam para o ano que passou, relembrando os caminhos trilhados, os desafios enfrentados e, sobretudo, celebrando as conquistas obtidas até esse momento. Os seminários foram transmitidos pelo canal do Instituto Anísio Teixeira (IAT) no Youtube e já tiveram mais de 46 mil visualizações. 

Atípico, o ano de 2020 colocou à prova a dinâmica preestabelecida, os saberes fincados em anos de prática e, sobretudo, a capacidade de os educadores se reinventarem diante de uma rotina escolar que não envolveria a estrutura física da escola. Como resumiu Jerônimo Rodrigues, Secretário de Educação do Estado da Bahia, “2020 tem que ser escrito em letras graúdas como um ano de resistência.”

Os seminários realizados nesta terça reuniram os Núcleos Territoriais de Educação do Velho Chico (NTE 2), Bacia do Rio Corrente (NTE 23), Baixo Sul (NTE 6), Extremo Sul (NTE 7) e Costa do Descobrimento (27). Os encontros fecham o ciclo anual do programa de formação continuada territorial promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, através do Instituto Anísio Teixeira (IAT), que este ano ocorreu em ambiente virtual, através de uma plataforma criada especialmente para os encontros formativos com as duplas gestoras e equipes técnicas das secretarias municipais de educação. Ao longo do ano, 10 encontros de formação de formadores e 6 encontros dos formadores com suas turmas foram realizados em cada território de identidade. 

Foram realizados 14 seminários, somando mais de 42 horas de transmissões, com o envolvimento de mais de 400 educadores, dos 27 Territórios de Identidade, 84 produções acadêmicas a partir das experiências e dos conteúdos da Formação Continuada.

Compreendidas entre apresentações culturais envolvendo os estudantes, as mesas temáticas se desenvolveram à luz de temas como o cuidar no fazer pedagógico, o trabalho com os indicadores educacionais, as aprendizagens geradas pelo contexto pandêmico e as práticas pedagógicas delas decorrentes. O último dia dos seminários mostrou que a gestão educacional teve, sim, que se reinventar para não perder o vínculo com os estudantes e promover a aprendizagem, mesmo que de forma remota. Fazendo uso ou não de novas tecnologias de ensino, as redes mostraram que o leme dessa grande embarcação continuou sendo o estudante e sua aprendizagem.

“Nós trabalhamos com muitas vidas” foi a frase que a técnica Ducelúcia Borges usou para mostrar a potência do cuidar pedagógico neste ano. Seja voltado à parte estrutural de organização da escola para o retorno, às questões legais, pedagógicas ou no âmbito pessoal, as trocas pelo avizinhamento promovido pela formação revelou angústias, reflexões e soluções para problemas comuns, contou a educadora, que atua há 23 anos na educação de Oliveira dos Brejinhos (NTE 2). Técnica do mesmo NTE, mas em Bom Jesus da Lapa, Daniela Fagundes completa: “Superação. Conseguimos enfrentar nossos medos e conquistar novos espaços.” Dentre as atividades desenvolvidas, elencou feiras e gincanas virtuais, maratonas de estudos, comemoração do dia do estudante, além de momentos de preparação para o ENEM.

Ainda no município de Bom Jesus da Lapa, educadores e estudantes aproveitaram o momento para mergulhar na história da cidade. O projeto ‘Bom Jesus da Lapa: Conectando o Passado aos Desafios do Presente e do Futuro’ foi desenvolvido no Colégio Monsenhor Turíbio Vilanova, com o objetivo de construir conhecimento a partir dos aspectos históricos e culturais do município. A diretora Ana Garcia e a coordenadora Isabel Ribeiro contaram como o projeto se desenvolveu em três etapas -  emancipação política, história da romaria e vida do Monsenhor Turíbio Vilanova -  unindo o diverso corpo discente da escola em torno de uma grande pesquisa.

Outra unidade que conta com público diverso é o Colégio Estadual Rolando Laranjeiras. Para atender a esta diversidade, muitas foram as atividades desenvolvidas, dentre as quais trabalharam o texto – discutido nas atividades de formação continuada do IAT – “Um Festival de Incertezas”, de Edgar Morin com os estudantes. Mostrando que o esforço não foi unilateral, Ana Rocha Lima, diretora da escola, que fica em Santa Maria da Vitória (NTE 23), apresentou a foto de um dos estudantes da zona rural na parte mais alta de uma árvore, vencendo o desafio de conexão para acessar o conteúdo disponibilizado pela escola. “Todos precisamos vencer as dificuldades”.

Em Brotas de Macaúbas (NTE 2), a coordenadora da Escola Bom Jesus, que atende a dez comunidades da zona rural, trabalhou através do que chamou de pedagogia de projetos. Maria da Glória Sodré contou como, na terra do ilustre Milton Santos, educadores usaram os projetos para produzir conhecimento com os estudantes. O projeto ‘Transmissão Digital’ provocou reflexões acerca das novas tecnologias e suas implicações para a educação; o ‘Brotas Amada’ estudou aspectos históricos, culturais, geográficos e sociais do município e o ‘Manifestações Culturais em Tempos de Pandemia’ analisou o impacto sobre as tradições religiosas do entorno da escola. Associado a estes projetos, o compartilhamento de livros em formato digital por meio de aplicativos também foi uma aposta para ampliar o contato dos estudantes com a Literatura.

O fio condutor de todas as ações não podia ser outro que não o planejamento e estabelecimento de bons planos de ação, que envolvam toda a comunidade escolar. Em Santana, NTE 23, foi exatamente assim que o Centro Educacional Municipal Vital Ferreira de Araújo conseguiu desenvolver ações para diminuir a evasão escolar. A educadora Jalcineide Queiroz contou que o plano de ação da escola foi essencial para aumentar o sucesso da instituição de ensino. Envolvemos toda a comunidade, tanto na construção como no conhecimento do plano”. Sobre a ação da secretaria de educação do Estado, “A formação continuada do IAT, onde ocorreu o planejamento em pares, provocou um fortalecimento profissional que não vai ficar só com a gente. (...) Os conhecimentos obtidos através da formação estão sendo incorporados na prática.”

 Cuidar das identidades e transformar impossibilidades

Uma oração pataxó entoada pelos estudantes da Escola Indígena Pataxó Coroa Vermelha e do Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália (NTE 27), abriu os trabalhos do seminário da tarde, que reuniu três territórios do sul do Estado. As práticas apresentadas pelos educadores durante o encontro reforçaram a importância de lançar um olhar cuidadoso para as identidades. 

A coordenadora pedagógica Roseedite Souza, da Escola Municipal Hildécio Antônio Meireles, em Cairu (NTE 6), contou que as atividades pedagógicas durante este ano de pandemia trabalharam com questões de classe, gênero e raça. "A palavra que definiu esse ano para nós foi revolução. A gente precisa reconceituar a educação e as nossas práticas. Temos o desafio de lançar um novo olhar e trazer uma educação com a cara do nosso território, que discuta as nossas identidades. Uma educação antirracista que traga para nós uma sociedade melhor, com mais equidade e igualdade". 

As discussões sobre raça também mobilizaram a comunidade da Escola Cívico Militar Reitor Edgard Santos, em Itamaraju (NTE 7). Quando o cansaço dos estudantes com as aulas remotas ficou visível, a equipe pedagógica resolveu criar o projeto "Consciência Negra", que envolveu todas as turmas divididas em categorias como poema, memória literária e crônica.  "O encantamento e a participação foram formidáveis. A gente conseguiu retomar aquele brilho, a alegria, o frio na barriga das aulas presenciais", contou a diretora pedagógica Geane Brito. Durante o encontro, Geane também falou sobre a importância da formação continuada. "É gratificante porque não é algo solto. É algo da nossa prática diária, que aprimora o que a gente faz no dia-a-dia. É um presente participar da formação". 

No Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa, em Teixeira de Freitas (NTE 7), as aulas remotas também se aliaram a atividades que tornassem o aprendizado mais lúdico e prazeroso. Nas lives do Café Humanizado, os estudantes discutiram temas atuais com professores e convidados. Já nas sessões de cinema com o filme "O Menino que Descobriu o Vento", os professores mostraram como dá para resolver problemas do cotidiano com uma ajudinha dos números e da ciência.  "Não é só na sala de aula que a gente aprende", resumiu o coordenador pedagógico Fábio Santana. "A pandemia vai passar. Enquanto isso, a gente não pode se afastar dos nossos estudantes". 

Nesse mesmo espírito de que ninguém solta a mão de ninguém, a educadora Lurdes Barbosa, da equipe técnica da secretaria municipal de Itamaraju (NTE 7), mostrou o projeto de busca ativa escolar desenvolvido na cidade. A campanha para que eles participassem das atividades remotas e fizessem a rematrícula teve até faixas e carro de som. "Depois da ação, nós percebemos que houve um avanço significativo na participação dos estudantes". Lurdes também contou que a formação continuada tem contribuído para a sua atuação profissional. "A formação acontece em contexto de serviço. Então todas as temáticas são trabalhadas a partir da nossa realidade". 

Diretora-geral do Instituto Anísio Teixeira, Cybele Amado encerrou a série de 14 seminários, realizados durante sete dias, reafirmando a potência da "formação continuada do chão da escola". "A formação continuada real, que constrói sentidos e significados é esta, do chão da escola, que traz a prática, mas também a reflexão da prática do cotidiano e nos faz crescer, progredir, avançar. É essa formação continuada que nós acreditamos, que integra sujeitos e acredita nos sujeitos, transformando impossibilidades em possibilidades".   

A formação continuada se desenvolve sob a perspectiva territorial nos 27 Territórios de Identidade que compõem o estado, com foco nos profissionais que atuam no Fundamental II e Ensino Médio. Em torno de 9 mil educadores participam da iniciativa, cuja parceria com a União dos Municípios da Bahia (UPB), da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), do Itaú Social e das Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) contribuem para potencializar o trânsito de saberes, desafios e conquistas entre os municípios de cada território.

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