Na reta final, os Seminários Saberes e Fazeres, projeto anual de encerramento do Plano de Formação Continuada Territorial promovido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT), chegam ao penúltimo dia. Nesse início de semana, as apresentações das redes dos NTEs 3, 24 (manhã) e 26 (tarde) promoveram uma larga troca de experiências acerca dos desafios e práticas educacionais construídas em 2020, nos seus 41 municípios.  

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Os encontros acontecem em ambiente virtual, no canal do Youtube do IAT, devido à pandemia do coronavírus. Até o momento, mais de 37 mil visualizações já foram contabilizadas e uma intensa participação pelo chat pode ser acompanhada por quem assiste ao evento ao vivo, que é traduzido em libras, pelas professoras Ana Paula e Cintia, da Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS), democratizando o acesso às informações compartilhadas.

Nas apresentações culturais, música; nas mesas temáticas, Literatura. No início da manhã, a leitura permeou as experiências compartilhadas, tendo sido fator de aproximação entre aluno e escola neste período de pandemia. No Colégio Estadual Horácio de Matos, a equipe gestora apostou no Clube de Leitura, projeto que já existia, mas que foi adaptado para atender aos requisitos do ensino virtual. “Precisávamos fazê-los crer que continuamos escola”, conta a diretora Neusa Carvalho.

E foi a partir dos questionamentos compartilhados na formação continuada que a revitalização do projeto se deu. “As perguntas da formação continuada nos trouxeram a ideia de que era preciso, sim, reformular nossas práticas.” Coordenadora na mesma escola, que fica no município de Jussiape (NTE 3), Solange dos Santos comparou o trabalho da equipe escolar a um colar de contas, em que o fio de nylon que as conecta é o trabalho da dupla gestora. E esse trabalho, segundo ela, vem sendo potencializado pelos encontros formativos. “A formação continuada não é somente trabalhar conteúdos, é sentar com pares e discutir o que está ou não dando certo, é fazer junto.”

Sobre os arranjos educacionais, a diretora Cícera da Silva Souza, do Centro Educacional Monsenhor Emílio de Moura Ferreira Santos (CEMEMFS), em Glória, e a coordenadora Maria Neide Targino, do Colégio Estadual Democrático Quitéria Maria de Jesus, em Paulo Afonso, trouxeram as experiências de uma parceria efetiva entre escola e família. Membros do NTE 24, os municípios têm características diferentes, mas a fórmula encontrada para combater a evasão tem a mesma origem: o entendimento da importância desta integração.

No CEMEMFS, foi preciso entender que suporte as famílias precisavam para contribuir na vida escolar dos estudantes após a suspensão das aulas presenciais para desenvolverem atividades que efetivamente atraíssem os jovens. “A reorganização educacional tinha que acontecer, mesmo que fosse à distância, para não perdermos o vínculo com o nosso alunado”, conta Cícera. A partir daí, iniciaram projetos culturais, com a participação das famílias, para promover a reconexão do estudante com a escola. Com realidade diferente, na unidade de Paulo Afonso a parceria família-escola entrou em jogo para ajudar a conciliar a vida escolar e profissional dos jovens.

Em Tejuco, pequeno povoado do município de Palmeiras (NTE 3), que tem como pano de fundo a majestosa Serra do Sincorá, cultura é o que não falta, como as tradições do reisado e a prática da capoeira, herança da sua origem quilombola. No entanto, os jovens, ainda ligados ao trabalho no campo, experimentaram sonhar mais alto. Apresentado pela supervisora técnica da rede municipal, Elisete Gonçalves, a I Semana Temática Online do Tejuco discutiu o processo de independência do país, para embasar a produção de vídeos com o tema “O Brasil dos Meus Sonhos”. Os vídeos foram disponibilizados no canal da escola do Youtube.

Como o Brasil dos sonhos de qualquer educador é aquele em que as crianças e jovens possam, efetivamente, aprender na escola, a importância do trabalho consistente com os números das avaliações externas foi um diferencial da formação continuada em Abaré (NTE 24). Segundo a coordenadora geral do setor pedagógico da secretaria municipal, Suzete Nogueira, interpretar os dados, implementar o plano de ação e o trabalho com as referências que compõem a nota do IDEB - cuja meta a cidade supera a cada ano - foi fruto da formação. “Durante a formação, pudemos debater temas de grande valia para a nossa prática em momento pandêmico. Práticas que serão aprimoradas a cada dia devido aos nossos estudos. Se aferimos, temos uma medida e podemos perceber que estamos no caminho certo.” 

Salvador e Região Metropolitana

No período da tarde, o seminário reuniu os educadores do NTE 26, com sede em Salvador, o mais populoso do Estado. O encontro contou com a presença de Raimundo Pereira, vice-presidente da Undime, um dos parceiros da formação continuada. Ele saudou os presentes lembrando do grande educador baiano, Anísio Teixeira.  "Gostaria de citar Anísio Teixeira quando diz: 'A sabedoria é a subordinação do saber ao interesse humano e não ao próprio interesse do saber pelo saber e muito menos a interesses parciais ou de certos grupos humanos'’. No momento em que a secretaria em parceria com o Itaú Social promove a formação continuada, isso demonstra a sabedoria na sua essência, onde o conhecimento não pode ficar apenas para uma pessoa. O conhecimento que essa pessoa adquire, ela é capaz de ramificar para diversos locais ao mesmo tempo". 

Outro parceiro do plano de formação continuada, o Itaú Social, foi representado por Tatiana Bello. Ela lembrou da importância de trabalhar de maneira colaborativa. "O Itaú Social possui como missão contribuir para a melhoria da educação pública, sempre por meio de parcerias. Estamos muito felizes com a parceria que temos na Bahia. Nós acreditamos que a transformação na educação acontece por meio das pessoas, por meio de processos formativos significativos, que fazem da construção coletiva o seu locus e a sua prática. É assim que a gente consegue mudar a educação e consegue proporcionar mais aprendizagem para as crianças e adolescentes". 

O secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, continuou marcando presença nesta segunda semana de seminários. "Estamos colhendo o que semeamos. É um momento importante de consolidar, fechar um ciclo. Há muitas boas práticas acontecendo e nós estamos compartilhando, tendo a coragem de apresentá-las para que outros cantos apliquem e aperfeiçoem. Isso é muito gratificante”. 

Foi pensando nas aprendizagens dos estudantes que a secretaria de educação de Camaçari criou o projeto Mais e Melhor Educação em Casa, apresentado no seminário pela educadora Hosana Gonçalves, que integra a equipe da secretaria. Com a suspensão das aulas presenciais, as atividades pedagógicas passaram a ser disponibilizadas por um portal na internet. A página vem sendo alimentada há 33 semanas consecutivas. Um comitê escolar foi formado para atender as especificidades de cada escola. E para aqueles que não tinham acesso às plataformas digitais, foram entregues atividades impressas, que juntas alcançaram 92% dos estudantes. "Nossa meta é não deixar ninguém de fora", disse Hosana.  

Ela destacou que a formação foi muito importante nesse processo, especialmente na elaboração dos planos de ação das duplas gestoras nas escolas. Técnico na secretaria municipal de Dias d`Ávila, Diego Brandão ressaltou as contribuições da formação para um olhar mais profundo para os indicadores educacionais.  Os conhecimentos dos encontros formativos irão enriquecer a Avaliação Intrarrede, adotada na cidade, e que monitora proficiências de língua portuguesa e matemática. "Nossa proposta é repassar o que aprendemos para que os professores conheçam os descritores do SAEB e que nós possamos juntos encontrar caminhos para superar as fragilidades".

Nesta terça, no último dia dos Seminários Saberes e Fazeres, o compartilhamento de práticas inovadoras será entre os educadores do Núcleos Territoriais de Educação Velho Chico (NTE 2), Bacia do Rio Corrente (NTE 23), Baixo Sul (NTE 6) e Costa do Descobrimento (NTE 27).